NO CHÃO DA MESA – Flávia Arruda

NO CHÃO DA MESA –

Na noite passada eu não sonhei com você, não te pedi para ficar. Só hoje, a caminho da vida, eu recordei histórias e fatos. O semáforo estava fechado, é véspera de feriado, por entre os carros os vendedores ambulantes ofereciam bandeiras da nação aos motoristas que aguardavam o sinal verde para avançarem em seus percursos.

Foi estranho o sentimento que tive ao ver nossa bandeira sendo aberta em plena avenida, as cores que tanto me orgulharam em tempos áureos, hoje me fizeram sentir vergonha de uma forma que meu coração parecia ter se comprimido, pois, doía como se tivesse recebido um soco, além disso, uma pressão nos pensamentos me fez sentir embrulho no estômago.

Não, eu não queria ter pensamentos negativos, a vida por si só já se encarrega de nos oferecer o que não vem a calhar. O meu projeto de vida, que ainda é um simples protótipo, me diz que paz e leveza é o que temos para hoje, que comida na mesa, contas pagas, saúde e dignidade humana é pelo o que vale a pena lutar.

O sinal verde me fez engatar a marcha primeira e seguir rumo ao meu destino, a praia. O mar é hipnótico, tem uma energia que revitaliza o corpo e a alma, sem falar na capacidade de acalmar um coração atarantado. As contas do mês ficaram guardadas no porta-luvas do carro, os pensamentos deveriam navegar por outros mares.

Já na praia, no chão da mesa, farelos de sonhos, um coco verde, vontades tamanhas de juntar os pedaços, uma cerveja gelada e alguns bons motivos para seguir. No chão da mesa, rascunhos dos últimos tempos, o protetor solar, a pena ressequida pela falta de verve, os óculos e a máscara.

No chão da mesa, algumas lembranças do que poderia ter sido, o copo quase vazio, a carteira desbotada pelo uso, os raios de sol que vazaram pelos pequenos furos do guarda-sol. Havia, também, guardados de memória, no chão da mesa.

Sim, o chão da mesa estava abarrotado de nostalgia, de cansaço de vida, no entanto, com a certeza de que pouco nos resta e, sim, que melhor é ser feliz do que ter razão, ainda que a cartomante insista em ler minha mão, tirando-me a concentração desta falsa prosa, carregada de emoções e sentimentos.

Só vivo! Ah… tenho urgência em viver, cada instante de vida é o melhor evento que vivo, assim estou seguindo e cumprindo minha jornada.

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, flaviarruda71@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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