NO GALHO DA PITANGUEIRA –

Em artigos outros, anteriores, tenho escrito sobre parte da minha rotina diária e, portanto, dessa vez é para contar um simples ocorrido que quebrantou meu coração.

Como todos os dias, uma das atividades é chamar meu neto Arthur (1 ano e 5 meses) para colocar água para os passarinhos que logo cedinho se aproximam da pitangueira que nutro no quintal (quantas lembranças dos da minha infância) de casa. “Arthur, vamos botar água para os passarinhos!”. Ele logo se dispõe e segurando em minha mão vai ajudando a levar a água. O depósito da água fica preso a um galho da pitangueira.

Pois bem, sombra, água fresca e fruto maduro (Pitanga) concorreram para que um ninho fosse feito dia a dia pelos nobres visitantes numa galhada da frutífera árvore .

Ultimamente um fungo atacou as folhas deixando-as frágeis e caindo. Faço uma triagem nas folhas e vou retirando uma por uma. Percebi que com pequeno balançar do galho as folhas doentes caiam facilmente. De pronto, balancei uma galhada e para minha surpresa e tremenda tristeza, era justamente a do ninho do passarinho.

O que aconteceu? Caiu um ovinho.

Ao ver a besteira que fiz, praticamente “ajoelhei” meu coração e pedi perdão ao pássaro ‘mamãe’ e voltado para a minha condição de pai-avô, pedi perdão também a  Deus.

Aquela ocorrência levou-me a tirar algumas reflexões sobre o interromper de vidas. Certamente havia esperança de nascimento naquele ninho. A expectativa da ‘mamãe pássaro’ e, claro, era a de uma nova vida em perpetuação.

Instante a instante eu voltava ao local, como que, querendo ‘conversar’ e pedir desculpa pela minha displicência em não observar que, naquele galho, estava em formação um novo cantar.

Fiquei imaginando o quanto é dolorido as perdas prematuras de tantas crianças, jovens, adultos em início da vida produtiva, pais e avós amados que ainda teriam muito a contribuir com exemplos e ensinamentos.

Também assim com o reino vegetal e animal: quantos estragos ambientais extinguem vidas, sons, flores, frutos, beleza, águas cristalinas, enfim, parte de uma relação propícia para um salutar convívio entre aqueles que deveriam usufruir plenamente da vida.

Depois de alguns dias, percebi que o ninho havia sido desfeito e, certamente, transferido para uma outra árvore onde a ‘mamãe-pássaro’ pudesse desfrutar da “maternidade” com mais segurança. Ou, de forma mais definitiva, ter desmanchado o ninho, pois aquele seria o único ovo do qual brotaria a vida que ela esperava.

“Arthur, vamos botar água para os passarinhos”.

 

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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