NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA ESIPNHA –
Um grupo de amigos foi convidado para uma manhã de domingo diferente: praia de Ponta Negra; animação total, com previsão de um animado papo, um bom banho de mar, uma cervejinha bem gelada.
Por que não aceitar?
Local melhor impossível: marzão aberto de águas aquecidas e serenas, de cores estonteantes, de um verde esmeralda e um azul turmalina.
Famílias chegando por volta das 11 horas da matina, muitas ainda sem ter saboreado o café da manhã. Apetite aberto e estimulado para um bom embate gastronômico dominical.
Os grupos foram se arrumando, conversa muito solta e leve, prenúncio de uma boa e esticada resenha. E pegue bebidas: muitas geladas, caipirinhas em banda de lata, sem esquecer do uísque solto, na época o Druris e Natu Nobilis.
O tempo foi passando, a bebida rolando; o quengo começando a esquentar e a fome aumentando com o aparecimento do rói-rói estomacal. E nada de tira-gostos, nada da “mistura”.
O lindo crepúsculo já chegando, embelezando ainda mais o belo cartão postal de Natal; e a fome aumentando.
Os olhares dos convidados já atravessados e entristecidos, inquietos, algumas mulheres já adormecidas pelas hipoglicemias e nada do chamado para a chepa; de repente os convidados são surpreendidos com um fuzuê, um corre-corre, como uma pessoa pedindo ajuda. Correndo para ver do que se tratava, os visitantes perceberam que o movimento, o rebuliço vinha da cozinha. Lá chegando encontraram uma das pessoas da casa, uma anfitriã, engasgada com uma espinha de peixe na garganta e, com surpresa, perceberam que a comida corria frouxa, solta e a “bangu” no local, com uma boa presença de dispostos esfomeados.
Só depois de refeito o susto, o socorro prestado e resolvido, finalmente soou a chamada para o almoço, com a graça da “espinha”.
Resumo da ópera: nunca coma escondido dos convidados, vez por outra aparece uma espinha de peixe no meio do caminho; no meio do caminho tinha uma espinha.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]