NO MEU TEMPO… –

Antes que vá adiante neste texto, que fique aqui um esclarecimento ao leitor. Não sou retrógrado nem saudosista, pois adoro a modernidade com as suas facilidades, possibilidades e inovações, embora abomine os efeitos deletérios do uso excessivo e descontrolado do telefone celular por crianças.

Nunca exaltei o passado em detrimento da atualidade, até porque curto em demasia cada avanço da inteligência humana que, embora provoque determinadas mazelas como as modificações climáticas, continua oferecendo benefícios inimagináveis para a coletividade.

Trato aqui apenas de algumas lembranças do meu tempo de criança e de adolescente, quando predominava a simplicidade, a ingenuidade e a pureza de antigamente, coisas que serviriam de chacota para a mocidade de hoje.

Quando criança eu nunca possuí uma camisa de clube, uma chuteira ou uma bola de couro, mas me diverti bastante jogando peladas com bolas de meia em ruas sem calçamento nem movimento de carros. Também empinei pipas e brinquei com carrinhos toscos confeccionados com latas de óleo comestível e pedaços de madeira.

As mudanças comportamentais desde o meu tempo de adolescente para a atualidade foram marcantes e contemplaram as mulheres como as maiores beneficiadas pelos avanços. Décadas atrás, as filhas eram criadas para serem donas de casa. Isso mesmo! Basta lembrar as Escolas Domésticas da vida.

Somente namoravam sob a custódia severa dos pais ou de um irmão caçula. Carícias exageradas nem pensar! Algumas moças não suportando a tutela fugiam para se casar. Tudo mudou para melhor nesse aspecto. Se a virgindade era um tabu, agora virou incômodo. Casamento, somente se o casal desejar, mesmo assim após a provação de uma vida a dois descompromissada, debaixo de um mesmo teto.

A garra feminina gerou avanços inimagináveis. Hoje a mulher tem o direito de ser o que bem quiser profissionalmente:  astronauta, lutadora de boxe, cientista, gari, presidente de nações e até proctologista – qual homem no meu tempo se sujeitaria a receber um toque retal de mão feminina?

Entendo, que desde os primórdios das civilizações tudo teve o seu tempo no tempo devido. Fome, miséria, riqueza, ganância, crueldade, traições, desumanidade sempre existiram na Terra, desde que o homem se entende por gente. O problema é que agora sabemos de tudo em tempo real, mediante as redes de comunicações sociais ao vivo e em cores.

O lamentável no contexto atual é que nos parece que os valores de antigamente estão se desmilinguindo com a modernidade. Não mais se cultua como antes o respeito ao próximo, a vergonha na cara, a palavra mantida, o pudor, a honra, a honestidade tudo isso agora se mantém em idêntico nível de descaso, compartilhados numa vala comum.

Até onde nos levará tamanha insensatez é uma incógnita, se bem que bastante previsível na sua imprevisibilidade, pois resultará na quebra de paradigmas e na dissolução da sociedade constituída como nos moldes que aprendemos a respeitar.

Quando tamanha barbárie acontecer, certamente, o meu tempo haverá se esgotado e novos conceitos regerão o mundo. Isso, se ainda existir uma réstia do mundo do nosso tempo.

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

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