NO ÚLTIMO VERÃO –
De repente, no último verão, de tudo aconteceu neste nosso tão vulnerável e maltratado planeta. No Brasil, especificamente, o calor não deu tréguas com temperaturas ultrapassando os 40ºC.
Devido ao aquecimento global e às mudanças climáticas o mês de janeiro de 2025 foi o mais quente já registrado na história. Corroborando a instabilidade climática do planeta o verão terminou no dia 20 de março de 2025, com inexplicável frente fria, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.
No âmbito político internacional o clima não foi nada animador, nesse último verão. A União Europeia viu o seu receio se concretizar com a volta de Donald Trump à presidência estadunidense. Líderes europeus deram as suas opiniões, deixando o planeta em alerta total quanto ao risco de novo e global conflito armado.
O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, declarou: “…eu sei que parece devastador, especialmente para a geração mais jovem, mas temos de nos acostumar ao fato de que uma nova era começou. A era pré-guerra”.
A ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles, disse que a Europa tem de estar consciente de que o perigo da guerra está muito próximo: “Não é pura hipótese, é real”. Enquanto o almirante Gouveia e Melo, virtual candidato a presidente de Portugal nas próximas eleições, falou: “…iremos viver tempos perigosos, ignorá-los não é solução.”
Enquanto no Brasil, nesse verão passado, ficamos à margem da preocupação mundial ante a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Justifica-se. Aqui já vivemos a nossa própria guerra com a insegurança pública. Matam-se pessoas como se matam muriçocas. Instintivamente. Não com tapas, mas com tiros a queima-roupas.
Nesse último verão a inflação inflou, o combustível aumentou, o dólar disparou, o café desembestou e até o ovo que havia substituído a picanha ficou mais caro. Já o povo afogou suas desventuras, pulando Carnaval como nunca se tinha visto neste país tropical.
De Repente, no Último Verão, tal qual a história de Tennessee Williams, contada no filme do mesmo nome e que trata de traumas, ganância e dominação na relação entre ricos e pobres, poderosos e necessitados, de tudo aconteceu no mundo nos três meses do último verão.
As conversações, visando a paz, na guerra Rússia x Ucrânia e no conflito Israel x Hamas, fracassaram por não satisfazerem a avidez de domínio de governantes poderosos. Enquanto, aqui entre nós, o estágio da guerra com a parte degenerada da sociedade dá a impressão que o crime compensa.
Nesse período foquei minha leitura na extraordinária inteligência de Rui Barbosa. Escolhi duas de suas falas para compor este texto: “Há tantos burros mandando em homens inteligentes, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência” e “Majestade, me perdoe, eu não sabia que a república era isso!”
Passado o último verão eis-me alterando o conhecido ditado popular, afirmando sem medo de errar: “Tudo está ‘pior que’ dantes no quartel de Abrantes!”
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro