Victor Ambros e Gary Ruvkun são os ganhadores do Prêmio Nobel 2024 em Medicina, anunciou a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, da Suécia, nesta segunda-feira (7).
Os dois norte-americanos dividem o prêmio igualmente, que totaliza 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões), pela descoberta dos microRNAs e seu papel “na regulação genética pós-transcricional”, um processo fundamental para o desenvolvimento das células do nosso corpo.
No ano passado, o prêmio de Medicina também foi para dois cientistas, Katalin Karikó e Drew Weissman, por seus estudos que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes contra a Covid-19.
Desde 1901, mais de cem Prêmios Nobel em Fisiologia ou Medicina (como é formalmente chamado) foram distribuídos.
A distinção científica de renome mundial só não foi concedida em nove ocasiões: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942.
Ao longo dos anos, das 227 pessoas agraciadas com o Nobel em Medicina, apenas 13 eram mulheres.
Os vencedores
Ambos os laureados dividem igualmente o prêmio, recebendo metade cada um pelo impacto de suas contribuições no campo da biologia molecular, anunciou o comitê do Nobel.
Gary Ruvkun nasceu Berkeley, na Califórnia (EUA), e é médico e pesquisador vinculado ao Massachusetts General Hospital e à Harvard Medical School, em Boston (EUA), e foi premiado por sua pesquisa que revelou o papel dos microRNAs na regulação dos genes.
Segundo o Nobel, sua descoberta ajudou a entender melhor como os genes são ativados e desativados nas células.
Já Victor Ambros nasceu em Hanover, no New Hampshire (EUA), e atualmente é professor na Universidade de Massachusetts Medical School, em Worcester, Massachusetts.
Ambros compartilhou o Prêmio Nobel com Ruvkun por seu trabalho inovador na descoberta dos microRNAs, pequenas moléculas de RNA (ácido ribonucleico) que regulam a atividade genética e são fundamentais para o desenvolvimento das células.
As descobertas
O comitê do Nobel afirmou que Ambros e Ruvkun levaram o prêmio por descobrirem uma nova classe de pequenas moléculas de RNA, chamadas de microRNAs (miRNAs).
Essas moléculas são fundamentais na regulação da atividade genética, ou seja, o processo que controla como as células funcionam e se desenvolvem.
Sem os microRNAs, as células e os tecidos não se desenvolvem corretamente. Quando a regulação por microRNAs não funciona, por exemplo, ela pode levar a doenças graves, como câncer e diabetes.
Assim, a função dos microRNAs é ajudar as células a selecionar quais genes devem ser expressos, garantindo que apenas as instruções necessárias sejam ativadas em cada tipo de célula.
A evolução do SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19), por exemplo, foi influenciada pelos microRNAs humanos.
No caso da Covid, estudos indicam que os miRNAs, tanto do hospedeiro quanto do vírus, influenciam a infecção.
Por isso, encontrar miRNAs que possam ajudar a reduzir a gravidade da Covid-19 é uma abordagem bastante promissora.
Ao portal g1 Thomas Perlmann, secretário-geral do comitê do Nobel de Medicina, explica que provavelmente toda doença está associada à função do microRNA.
Embora ainda não existam tratamentos diretos desenvolvidos a partir dessa descoberta, a possibilidade de manipular os microRNAs para influenciar a expressão gênica tem o potencial de abrir novos caminhos para a criação de medicamentos, especialmente no tratamento de doenças como o câncer.
“Compreender esses mecanismos pode ser crucial para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas”, acrescenta Perlmann.
Um verme no caminho
Na década de 1980, Ambros e Ruvkun estavam interessados em entender como os genes controlam o momento de ativação das “instruções” genéticas, o processo que garante tudo o que as células precisam para crescer.
Para isso, eles examinaram algumas cepas mutantes do verme C. elegans, um organismo minúsculo de 1 mm de comprimento.
Alguns desses vermes, portadores do gene conhecido como lin-4, eram maiores, enquanto outros, com o gene lin-14, eram menores. Ou seja, esses genes pareciam ter um papel chave no desenvolvimento desses pequenos seres vivos.
Na década de 1980, Ambros então percebeu que o gene lin-4 parecia inibir o lin-14, mas a maneira como isso acontecia ainda era um mistério.
Enquanto isso, Ruvkun, que também estudava os genes, descobriu que o lin-4 não bloqueava sua produção, mas impedia o processo que transforma as informações do DNA do verme em proteínas, moléculas responsáveis por diversas funções no organismo.
Ao comparar suas descobertas, Ambros e Ruvkun perceberam que uma parte do lin-4 se encaixava na parte final do lin-14, que não estava relacionada à produção de proteínas.
E era essa conexão fundamental que interferia o lin-14, revelando uma nova forma de regular os genes, controlada por pequenas moléculas chamadas de microRNA.
Curiosidades sobre o Nobel de Medicina
O ganhador mais jovem foi Frederick G. Banting, que recebeu o Nobel da área em 1923, com apenas 31 anos, por ter descoberto a insulina. Já o mais velho foi Peyton Rous, premiado em 1966, aos 87 anos, por sua descoberta de vírus que causam tumores.
Entre os 227 vencedores do Prêmio Nobel de Medicina, 13 são mulheres. Um destaque especial é Barbara McClintock, a única mulher a ganhar o prêmio sozinha, em 1983, pela descoberta dos “elementos genéticos móveis”.
Outras mulheres que marcaram a história do prêmio incluem Gerty Cori (1947), pelas descobertas sobre o glicogênio; Rita Levi-Montalcini (1986), pelos estudos sobre fatores de crescimento; Françoise Barré-Sinoussi (2008), pela descoberta do HIV.
Embora ninguém tenha recebido o Nobel de Medicina mais de uma vez, em outras categorias há pessoas que já foram premiadas duas vezes (entenda mais abaixo). Desde 1974, o prêmio NÃO pode ser entregue a pessoas falecidas, a menos que o óbito ocorra depois do anúncio oficial.
Um caso especial aconteceu em 2011, quando foi descoberto que o laureado Ralph Steinman havia falecido dias antes do anúncio, mas como o comitê não sabia de sua morte, ele manteve o prêmio.
Nobel 2024
A láurea em Medicina é sempre a primeira a ser anunciada. Os prêmios em Física, Química, Literatura e Paz serão entregues ao longo da semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (14). Veja o cronograma:
- Medicina: segunda-feira, 7 de outubro
- Física: terça-feira, 8 de outubro
- Química: quarta-feira, 9 de outubro
- Literatura: quinta-feira, 10 de outubro
- Paz: sexta-feira, 11 de outubro
- Economia: segunda-feira, 14 de outubro
O que é o Prêmio Nobel?
A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).
O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos “àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade”.
Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska, o júri do Nobel de Medicina, essa regra não é mais tão levada à risca.
“Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador”, ressalta a pesquisadora.
Como o prêmio é escolhido?
Todos os anos, o Comitê do Nobel envia um pedido de nomeação para membros da comunidade científica.
Isso significa que alguns candidatos elegíveis recebem um convite especial para enviar seus nomes. Sem esse convite, nenhum postulante pode concorrer ao prêmio.
“Você não pode se nomear, mas membros de comunidades científicas, reitores de faculdades de medicina, ex-laureados com o Prêmio Nobel e outros que trabalham no ramo científico mais amplo e que receberam esse pedido podem fazer uma indicação”, diz Zierath.
Quantas pessoas podem compartilhar o mesmo prêmio?
Até três pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel, ou uma organização pode ganhar a láurea da Paz.
A Fundação Nobel, responsável por realizar os desejos do seu fundador, ressalta que essa regra está descrita no testamento de Alfred Nobel.
“Em nenhum caso o valor do prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas”, destaca um trecho do documento. Alguns pesquisadores, porém, criticam essa escolha e afirmam que as descobertas científicas de hoje em dia são muito mais coletivas: um trabalho de vários pesquisadores.
A láurea pode ser concedida postumamente? Tem limite de idade?
Não, um Prêmio Nobel não pode ser concedido postumamente.
Apesar, disso, a Fundação ressalta que, desde 1974, se o destinatário do prêmio falecer após o anúncio, a láurea ainda poderá ser concedida.
Sobre o limite de idade, o prêmio também não tem uma regra a respeito.
“O que eu diria é que, na maioria das vezes, levamos muitos anos até que o campo científico reconheça que a descoberta que você fez é uma distinção que deveria ser considerada para um Prêmio Nobel. Então, às vezes você tem que ser bastante paciente”, ressalta Zierath.
Fonte: G1