Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna ganharam o Prêmio Nobel 2020 em Química, anunciou a Academia Real de Ciências da Suécia nesta quarta-feira (7), pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma. É a primeira vez na história que duas mulheres ganham, juntas, o Nobel de Química.
Charpentier falou com a imprensa logo após o anúncio do prêmio e respondeu a uma pergunta sobre ela e Doudna serem as primeiras mulheres a levarem, conjuntamente, o Nobel.
As vencedoras dividirão o valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
Antes de Charpentier e Doudna, cinco mulheres já haviam ganhado o Nobel em Química: Marie Curie (1911), Irène Joliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada E. Yonath (2009) e Frances H. Arnold (2018).
Para a geneticista brasileira Mayana Zatz, que usa o Crispr em seu laboratório – o Projeto Genoma da USP – a tecnologia descoberta por Charpentier e Doudna é “fantástica” (veja detalhes de como funciona mais abaixo nesta reportagem).
Com a vitória das duas cientistas, o Prêmio Nobel já tem três laureadas mulheres neste ano. A primeira foi Andrea Ghez, premiada em física com outros dois cientistas por sua pesquisa sobre buracos negros.
“Está na hora de as mulheres começarem a ganhar”, afirma Zatz. “Essa nova geração de mulheres que tiveram a possibilidade de fazer pesquisa nas mesmas condições que os homens vão mostrar para que vieram. Vão mostrar que têm capacidade de fazer pesquisas revolucionárias”, diz.
Para a física Márcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a descoberta das cientistas é “muito bonita”, e a premiação simboliza uma vitória para as mulheres.
“Elas fizeram uma descoberta muito bonita, que é um processo que consegue fazer edição genética. Muita gente diz que isso não é química, [que] é biologia, mas, no fundo, esse é um processo químico que é uma ferramenta muito interessante não só para a gente entender o comportamento dos nossos genes, mas também como um instrumento de melhoria da vida das pessoas“, avalia.
“O Nobel envia convites para as instituições e algumas pessoas que eles selecionam, no mundo, para indicarem para o prêmio. E essas pessoas indicam o que vem à mente. E o que vinha sempre eram nomes de homens. Estamos vendo que, finalmente, as pessoas começam a pensar ‘mas, olhe, tem aquela cientista maravilhosa’. E, com isso, os nomes aparecem. E, com o aparecimento de nomes de mulheres, nós estamos vendo acontecer o que tinha que acontecer – que é ter uma representação mais diversa no Nobel”, diz Barbosa.
O Crispr/Cas9 é uma espécie de “tesoura genética”, que permite à ciência mudar parte do código genético de uma célula. Com essa “tesoura”, é possível, por exemplo, “cortar” uma parte específica do DNA, fazendo com que a célula produza ou não determinadas proteínas.
A pesquisa com a descoberta da ferramenta foi publicada na revista científica “Science”, uma das mais importantes do mundo, em junho de 2012.
Usando o Crispr, cientistas podem alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão. A tecnologia “teve um impacto revolucionário nas ciências da vida”, segundo o comitê do Prêmio Nobel, e está contribuindo para novas terapias contra o câncer. A ferramenta também pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias.
Fonte: G1
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