NOMES –
Nasci na véspera de Natal. Por sorte, minha avó materna sugeriu meu nome. Alguns conhecidos falaram a mamãe que eu devia ser chamada de Natalina. Quase naftalina… Já sinto aquele cheirinho tão característico nas gavetas… Mamãe também não queria facilitar minha vida! Pensou em Hildegard ou Emengard. Desculpa para as que têm estes nomes, mas eu não estaria muito satisfeita com isso…
Quando era bolsista lá em Bauru – SP, participava de uma pesquisa de campo e íamos de escola em escola fazer atendimento odontológico às crianças e adolescentes da cidade. Sempre tinha um nome que me soava estranho: John Lennon, LennonMacartiney (escrito desta forma!), Istephanny e outras pérolas. Por onde andam estas criaturas?
Eu pensava com meus botões: quando for mãe, terei muito cuidado com a escolha dos nomes. Nada que eles demorem a aprender a escrever ou que precisem repetir mil vezes até serem compreendidos.
Então, somos pais de dois e a busca pelos nomes foi uma tarefa árdua. Fizemos o possível para facilitar as vidinhas deles: sem letras repetidas ou outras pegadinhas. Porém, em muitos momentos, senti que fracassamos.
Na primeira consulta com o pediatra, chegamos felizes ao consultório médico. Nosso bebê mamava enquanto segurava meu dedo indicador. Roupa nova combinando com seus sapatos minúsculos. Flavinho dirigiu todo o percurso bem devagar (devagar demais!), pois carregava a carga mais preciosa do mundo. Enfim, ao chegarmos em nosso destino, ele se encaminha para o balcão da clínica e diz o nome de nosso filho: João Victor. Simples, não? Para ser entendido de primeira, sem pergunta alguma. Estávamos enganados. A atendente perguntou:
– Vitor ou Victor? Tem um C?
Nossos olhares se cruzaram naquele momento e entendemos que havíamos falhado na simplicidade. Sem letras repetidas ou nomes “não comuns”, o C fez a diferença e esta pergunta nos persegue até hoje:
– O Victor do João tem C?
– Sim! – respondo mal humorada.
Quase 19 anos disso…
Quando engravidamos da segunda vez já tínhamos um nome em mente: Pedro Henrique. Mesmos pré-requisitos: nomes comuns para serem entendidos de primeira! Mas, nosso João (que tem C no Victor!) decidiu que seu irmão seria Felipe e ele venceu. Nosso Felipe nasceu. Ao completar seu primeiro mês de vida, repetimos a visita ao pediatra, agora já íntimo nosso pelos anos de convívio. Chegamos à clínica com Felipe mamando, após Flávio dirigir extremamente devagar pelas ruas da cidade. Felipe com roupas novas e sapatinhos combinando.
A recepcionista, agora já mais simpática conosco, diz:
– Felipe? Com I? PH? Dois eles?
Como assim?
– F-E-L-I-P-E!
Vejo Flávio soletrando o nome, sentindo-se vencido. Eu também…
Hoje, pensando na loucura da pandemia, pergunto-me quantos “Alcoolgelson”, “Covidiana” ou “Laiviana” nascerão. E, o que mais me dói. Talvez as pessoas não achem seus nomes estranhos e saibam escrevê-los sem fazer perguntas…
Diferente de nosso João Victor com C e Felipe sem dois eles e PH…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária