NOVO MUNDO, DE NOVO? –
A ignorância é a mãe da religiosidade malsã e a senhora dos acontecimentos, que se renovam de forma cíclica, ora esquecidos, ora relembrados, marcando a esteira do Tempo, revivendo processos civilizacionais e suas historicidades.
Christophorus Colon, como o chamava o Papa Alexandre VI, ungido pelos reis católicos de Castela e Aragão, enfrenta o ignoto Mar Tenebroso e alcança, na madrugada do dia 12 de outubro de 1492, um novo horizonte.
Do alto do caralho, da gávea da nau Pinta, Rodrigo de Triana, marujo do Velho Mundo, foi o primeiro europeu a vislumbrar o Novo Mundo, mais tarde chamado de América, a homenagear a figura de Américo Vespúcio.
A milenar Guanahani, de origem aruaque, passou a ser chamada de San Salvador e a primeira povoação europeia foi nominada de Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana.
Assim, a Europa – Velho Mundo-, vê o Novo Mundo, constatando que a nova descoberta já era milenarmente habitada.
Como sempre, as armas fazem a diferença e a ferro e fogo, o Novo Mundo é assaltado pelo Velho Mundo, na busca dos metais nobres, do aurum e do argentum, a enriquecer o fausto das nobrezas da Península Ibérica e alhures.
Em contrapartida, os invasores passam a conhecer a sífilis congênita (treponema pallidum), oferecida aos invasores na troca das relações sexuais com as nativas, natural intercâmbio da carne e do instinto. Assim, o Velho Mundo, em 1495, três anos após, experimenta mais uma epidemia, até hoje sem vacina, mas curável.
Esta bactéria já dizimou milhões de seres humanos, entre eles Oscar Wilde, James Joyce, Baudelaire e no Brasil, o famoso ídolo do Botafogo, Heleno. Muito mais, ainda!
As pestes pandêmicas são cíclicas, mutáveis, transmissíveis, recebendo nomenclaturas de acordo com suas características de morbidade e localização.
Atualmente, o mundo é uma Aldeia Global, no dizer de MacLuhan. A instantaneidade de suas comunicações gera uma velocidade de transmissibilidade incomum.
Novo tempos, velhos tempos com aspirações galácticas.
O desenvolvimento tecnológico vacinal procura o antídoto e as sociedades passam a experimentar radicais mudanças do modo de viver. Fazer o quê? Como fazer?
A teoria darwiniana tem procurado demonstrar que o anthropopithectus troglodytes alcançou o patamar de homo erectus e depois homo sapiens (será?), em seu processo evolutivo.
A fórmula seria a adequação ao meio e à vida em sociedade numa mutação lenta e gradual, como tem sido milhares de anos atrás.
Há 20 anos criei um neologismo para classificar um novo humanoide – homo genitabilis-, o homem que se recria, a experimentar os avanços genéticos e mutacionais, de natureza reprodutiva.
Deus continuaria a ser uma ideação!
O mundo estupefato, amedrontado, perplexo, sem rumo, sem reta, se auto indaga a respeito da normalidade, da anormalidade e acerca da paranormalidade física e seus fenômenos, universo da fenomenologia.
Busca convulsiva acerca do que será o normal, após o pandemônio desta pandemia, induz-nos à dialética reflexiva de Cristóvão Colombo ao participar de ágape comemorativo pela descoberta do Novo Mundo, quando de forma metafórica, fez um repto ao Cardeal Mendoza e convivas, indagando-lhes se eles seriam capazes de realizar um feito igual por ele praticado?
Ato contínuo, perguntou-lhes quem colocaria um ovo em pé? Como ninguém conseguira resolver o desafio, Colombo quebrou levemente a casca de uma ponta do ovo, que ficou de pé, então.
Os comensais redarguiram-lhe, afirmando que qualquer um poderia fazer o mesmo, quando o genovês disse-lhes:
Eu descobri o caminho do Novo Mundo, mas antes foi preciso que eu fizesse e tivesse a ideia, posta em prática.
Afigura-se-me que um novo caminho é o retorno ao redil do instituto da família, regedora dos princípios basilares da sociedade, movida pela essência do viver – o amor, fator intrínseco da harmonia e fraternidade societária.
O Tempo dirá!
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília