NÚMEROS PRIMOS –

Quem se lembra dos números primos?

Para mim, foi mais uma daquelas coisinhas que aprendi e que nunca (nunca mesmo) descobri sua finalidade. Provavelmente estão na mesma gaveta dentro de meu cérebro dos conhecimentos sobre seno e tangente, tipos de rios e seus afluentes e os efeitos da corrente elétrica.

Poderia fazer uma lista extensa de várias coisas que me consumiram horas de estudo na adolescência e que não faço a menor ideia de como usá-las no meu dia-a-dia. Lógico que não conto isso para os filhos! Guardo na minha (outra) gaveta intitulada “você compreenderá isso na vida adulta” e sigo com aquele velho discurso: é importante aprender um pouco de tudo!

Enfim, nem lembrava dos benditos números primos. Até que meu marido voltou aos bancos da Universidade, sendo agora um aluno do curso de TI. Neste período ele decidiu fazer cursos on line e está estudando python (nunca tinha ouvido falar nisso). Assim, quando ele se senta em frente ao computador eu digo que ele está pytando (amo criar verbos). E ele passa horas pytando, com os dedos correndo pelo teclado e a testa franzida, sinal que está lutando mentalmente com alguma coisa (são 23 anos de casados, portanto, estes sinais são clássicos para mim).

Após 2 semanas ele larga o computador e sorri: consegui! Ele fez um programa para descobrir os números primos. E eu, muito calmamente me questionei o motivo da felicidade dele já que eu sabia, sem precisar criar programas de computador, que eram: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23…

Espera aí! Tem mais?

Comecei a fazer cálculos e perguntava a ele se aquele número também era primo. 29? Sim! 127? Sim! 271? Sim! 857? Sim! E eu pirei! kkk Precisava desabafar! Segundo Flavinho, eu buguei. E é verdade. Sabe quando você vai deitar fazendo conta e se perguntando se aquele número não pode ser dividido por ninguém além dele mesmo e do 1? Fiz isso! 557? Primo! 829? primo! E anotava no celular os números que eu acreditava serem primos para no dia seguinte ele testar no seu programa, o qual ele demorou 2 semanas fazendo, com teclado batendo mais rápido em alguns momentos e a testa franzida por tanto tempo.

Descobri que ainda não entendo o motivo para classificar um número em primo ou não. Continua naquela gavetinha do meu cérebro, lotada e cheia de poeira pelo tempo em desuso. No entanto percebi que o que a gente acredita conhecer tão bem é só uma ilusão.

Nestes dias pude listar mais de 15 novos (para mim, claro) números primos que EU descobri e que ELE , super orgulhoso, confirmou. E mais uns 30 que desconfiei que poderiam ser, mas puderam ser divididos por 7 ou 11 ou 13. Não importa. O importante nisto tudo foi aprender (e provar matematicamente) que, na verdade, não sei nada! Quando penso que sei alguma coisa… Pah! Vem a prova concreta de que ainda estou engatinhando…

Espero usar todo este aprendizado. Não o de números primos! Este me parece que após o upgrade voltará com nova roupagem para minha gavetinha de aprendizados sem saber qual sua finalidade.

Perdoem-me, senhores matemáticos, estou sendo apenas honesta. Mas, entender que nossa verdade não é absoluta, que preciso estar aberta para ver o outro lado e que o mundo tem milhares de novas possibilidades. Que delícia de aprendizado.

Em tempos de pandemia descobrir que o mundo é muito maior do que se pensa: é um presente!

Grata aos números primos.

Talvez tenha sido esta a sua finalidade para mim. Vou refletir sobre isso.

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e professora universitária

 

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