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Nvidia: como a inteligência artificial criou o novo ‘fenômeno’ da bolsa americana

A fabricante de chips e semicondutores Nvidia deu uma nova mostra do porquê virou a queridinha da bolsa americana. O lucro do quarto trimestre de 2023 foi de US$ 12,285 bilhões (ou mais de R$ 60 bilhões), em mais um resultado consistente divulgado na noite de quarta-feira (21) e que impressionou os analistas.

Os números representam uma alta de 769% no lucro da companhia em relação ao quarto trimestre de 2022. As ações, antes da abertura de mercado, subiam mais de 13% nesta quinta-feira (22).

A comoção tem motivo: a Nvidia é uma das óbvias beneficiárias de um eventual arranque da inteligência artificial. A empresa é uma fornecedora central de insumos para a expansão da IA, que promete ser a última grande revolução tecnológica — se os analistas estiverem corretos, é claro.

O cenário promissor fez os papéis da companhia dispararam quase 240% no ano passado, a maior alta da bolsa americana em 2023. Outras gigantes da tecnologia, como Microsoft, Amazon e Alphabet (dona do Google) também se destacam, mas nada nesses termos.

A era da inteligência artificial

Os analistas de internacional na XP Investimentos, Paulo Gitz e Maria Irene Jordão, explicam que o otimismo com a inteligência artificial tem por trás a possibilidade de ganhos importantes de produtividade para as empresas.

Um dos exemplos mais claros é a capacidade de a inteligência artificial processar uma quantidade gigantesca de dados em tempo minúsculo. Acontece que uma tecnologia capaz de realizar tarefas como essa demanda uma enorme capacidade de processamento, por vezes em datacenters específicos.

É aí que a Nvidia vira a grande estrela do mercado, pois tornou-se uma fornecedora de referência dos equipamentos necessários para o funcionamento de novas tecnologias. Conforme as aplicações se tornam mais acessíveis e os resultados mais refinados, mais empresas querem soluções parecidas.

Outras fabricantes de semicondutores também têm aproveitado o momento e vivem dias de altas, com destaque para a Arm Holdings e a AMD. Mas a Nvidia já traduziu o enredo em números.

Nos últimos trimestres, os resultados da empresa surpreenderam o mercado e fizeram a marca ultrapassar a casa de US$ 1 trilhão em valor de mercado em junho. Já em fevereiro deste ano, tornou-se a quarta empresa mais valiosa do mundo. Nesta quinta-feira, com a alta das ações, a empresa já encosta nos US$ 2 trilhões.

Em um ano, a Nvidia conseguiu multiplicar por seis o seu lucro, chegando a US$ 30 bilhões em 2023, enquanto a receita foi de US$ 61 bilhões.

“Basicamente, a Nvidia está fornecendo a ferramenta essencial para destravar uma infinidade de aplicações de inteligência artificial. As outras gigantes da tecnologia se aproveitam disso de diferentes formas”, explicam os analistas da XP Investimentos.

 

Entre as principais beneficiárias, os especialistas destacam:

  • Google, Microsoft e Amazon vendem serviços de computação na nuvem para terceiros;
  • Meta (Facebook), Amazon e Google usam inteligência artificial para melhorar a efetividade dos seus anúncios;
  • Tesla usa inteligência artificial para melhorar os sistemas de navegação de seu piloto automático;
  • Microsoft, com seu CoPilot/ChatGPT, e Google, com o Gemini, oferecem seus próprios serviços de modelos de linguagem.

E se for uma bolha?

A disparada de empresas ligadas à inteligência artificial na bolsa faz soar um alerta. Parte dos analistas acredita que o mercado está diante de uma bolha formada pelas empresas de tecnologia.

Uma “bolha” no jargão econômico acontece quando um mercado ou setor produtivo cresce a um ponto que se descola da realidade e dos fundamentos econômicos daquele cenário. Nesse caso, haveria uma bolha se analistas estiverem projetando lucros e avanços ao setor de inteligência artificial a patamares maiores do que eles podem alcançar.

“Altas abruptas nos preços das ações sem um crescimento correspondente em receita ou lucratividade remetem a sintomas de crises anteriores”, comenta Isac Costa, professor do Ibmec.

 

A empolgação com a inteligência artificial relembra a bolha da internet nos anos 2000, conhecida também como bolha “PontoCom”. O desenvolvimento dos primeiros serviços virtuais levou os investidores a despejarem rios de dinheiro sobre empresas do segmento, que em pouco tempo não se provaram tão úteis ou rentáveis.

O desespero generalizado para vender as ações fez o valor de mercado dessas empresas derreter. Mais de 500 empresas fecharam as portas, com uma estimativa de que o mercado tenha perdido cerca de US$ 5 trilhões.

Sobre o cenário atual, Isac Costa, do Ibmec, destaca que a empolgação com a inteligência artificial se estende para todos os portes de empresas do setor, o que pode ser perigoso. “O investimento especulativo em startups de inteligência artificial, muitas vezes com modelos de negócios não comprovados, levanta preocupações sobre a sustentabilidade do mercado”, comenta.

Mas os analistas da XP não acreditam que seja o caso de formação de uma nova bolha de IA. Dizem eles que as empresas de tecnologia de hoje são mais estruturadas do que nos anos 2000, e existe uma forte demanda para os serviços e produtos que são desenvolvidos hoje em dia.

“Pode ser evidenciado com o forte número de encomendas que as companhias que mais se beneficiaram da tendência apresentam, todas crescendo os lucros”, afirmam os analistas.

“Ainda que estas companhias tenham que realizar grandes investimentos para dar conta da demanda a longo prazo, esses investimentos não se baseiam apenas na ‘promessa’ da inteligência artificial, mas em demandas já bastante claras”, dizem.

 

Fato é que as gigantes da tecnologia são hoje as maiores responsáveis pela performance da bolsa de valores dos Estados Unidos, contrariando a lógica de um cenário de juros mais altos no país. O S&P 500 (índice que reúne as 500 maiores empresas do país) atingiu sua máxima histórica recentemente, apesar de as taxas estarem nos patamares mais altos dos últimos 20 anos.

Mesmo otimistas com o futuro das “big techs”, os analistas da XP Investimentos relembram que a empresa mantém visão cautelosa para os investimentos em bolsa, considerando a recente reaceleração da inflação, adiamento da perspectiva de cortes de juros, piora nas expectativas para os resultados das companhias nos próximos trimestres, volatilidade provocada pelas eleições e redução da liquidez.

Brasil ainda distante

Sem grandes protagonistas no setor de tecnologia, o mercado financeiro brasileiro não tem sentido os efeitos diretos desse furor. Nenhuma empresa diretamente ligada à inteligência artificial tem papéis na bolsa brasileira.

Basta olhar para a composição do Ibovespa: as duas empresas com maior peso na composição do índice são exploradoras de commodities. A Vale, com 12,5%, e Petrobras, com cerca de 13,4% (considerando as ações ordinárias e preferenciais).

“Diversas empresas brasileiras já utilizam algum tipo de tecnologia de inteligência artificial, mas poucas ainda incorporam plenamente as tecnologias mais novas. Quando empregam, são normalmente como clientes de companhias como a Microsoft, e raramente modelos robustos proprietários”, pontuam os analistas da XP Investimentos.

 

Já nos Estados Unidos, as empresas com maior protagonismo na composição do S&P 500, por exemplo, são as gigantes de tecnologia — o que inclui, por óbvio, a Nvidia.

Segundo o advogado tributarista Julio Caires, a falta de companhias relevantes no mercado de inteligência artificial no Brasil tem relação com a infraestrutura limitada, a falta de profissionais qualificados e um ambiente regulatório complexo.

Caires acredita que o Brasil tem um bom espaço de oportunidades para se beneficiar dessa tecnologia, em um movimento que deve vir das fintechs. “A inteligência artificial deve estimular primeiro os investimentos em startups de tecnologia, e também promover a digitalização de empresas tradicionais”.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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