O ABC DO SERTÃO –
O compositor e cantor Luiz Gonzaga, denominado O Rei do Baião, e seu companheiro Zé Dantas, egressos do sertão pernambucano, lançaram invulgar música, intitulada O ABC do Sertão, a relembrar como o abecedário da língua portuguesa era soletrado, que enunciava a letra G, como GUE, por exemplo. Atualmente, os lusitanos denominam o “gmail” como “guemeil”, enquanto que os brasileiros dizem “gemeil”.
Vejam a letra da canção, a rememorar o aprendizado do abecedário!
“Lá no meu sertão, pro caboco’ ler Tem que aprender um outro ABC
O J é ji, o L é lê
O S é si, mas o R tem nome de rê
Até o Y, lá é pissilone
O M é mê, e o N é nê
O F é fê, o G chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê
A, B, C, D
P, Q, lê, mê Nê, P, Q, rê
T, V e Z.”
Verdadeira aula de passado no presente! A prosódia e seus meandros mágicos deixa-nos encantados.
Correio eletrônico é muito mais sonante! Cheira à estafeta, às cartas, ao mundo epistolar com ares de modernidade.
A língua portuguesa, em nove países do mundo, conforme registra a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa – CPLP, por ordem alfabética, é utilizada pelas seguintes nações: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste.
Apesar de acordos ortográficos estabelecidos durante muitos anos, visando a uniformidade ortográfica, o último acordo vigente (AO90) foi celebrado pelas Altas Partes Contratantes do Brasil e Portugal, em 16.12.1990.
Moçambique e Angola até a presente data não aderiram, enquanto que outros não implantaram. A propósito, a sociedade civil portuguesa deseja revisão do acordo, que foi assinado, politicamente e às pressas, por dois presidentes: Luiz Inácio Lula da Silva e Aníbal Cavaco e Silva. Sem comentários desairosos, assim deve ser!
As críticas em geral, quer no Brasil, quer em Portugal, receberam, inclusive, apoio do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, bem como do saudoso Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, além da professora Maria Helena Moura Neves, quando de sua manifestação no Simpósio Internacional da Língua Portuguesa, monumental evento realizado pela Academia de Letras de Brasília, à época.
Indiscutível é, que o AO90 ao invés de unificar o idioma, conseguiu gerar intransponíveis regramentos, inclusive em sua praticidade de aplicação e entendimento, no tocante a hifenização e em tantos outros segmentos.
Verdadeira mixórdia, razão pela qual a Academia Brasileira de Filologia outorgou ao autor do livro – A Infernização do Hífen –, o Prêmio Nacional Antenor Nascentes, que demonstrou a origem do hífen na Língua Portuguesa.
Somente nosso idioma e o francês utilizam essa excrescência anômala do hífen!
Prémio assim se escreve em Portugal, enquanto que no Brasil grafa-se – prêmio. Além de inúmeras outras palavras! Onde está a unidade do acordo? Mera fantasia de requintes, regidos pela vaidade de muitos, que se arvoram imortais regedores da língua, que desconhecem as mutações dos gentios do Condado Portucalense até hoje. A língua é viva e transporta valores, no dizer do saudoso Adriano Moreira, homem de Macedo dos Cavaleiros.
Anos atrás manteve-se reunião com o Presidente José Manuel Blecua Perdices,
da Real Academia Española, entidade que reuniu os 29 países do idioma hispânico no mundo e fixou uma só gramática, a respeitar as variações.
Algo extraordinário e motivador de profundas reflexões. Verdadeira aula magna de bom senso vernacular!
A língua portuguesa é uma só com suas variantes!
José Carlos Gentili – Poeta