O Carnaval de antigamente era um encanto, um bálsamo, um deslumbramento, e fazia bem à alma das pessoas, exceto aquelas que se reuniam em seus retiros espirituais, levadas pela religiosidade.
No tempo em que o rádio era o maior sucesso da tecnologia, o carnaval era caseiro e toda a família se divertia ao som dos rádios.
As marchinhas de carnaval estrondavam nas rádios brasileiras e a criatividade do pensamento projetava nas mentes saudáveis a beleza do carnaval que acontecia nas principais capitais do País, principalmente o carnaval Pernambucano e o da Cidade Maravilhosa.
Mesmo com a pobreza própria de cada cidade, o povo nordestino também sempre comemorou o carnaval.
O sentido do carnaval, bem diferente do sentido natalino, traz alegria ao povo, independente de classe social. Enquanto o Natal é festa dos ricos, o Carnaval traz alegria a todas as camadas sociais, trazendo ao povo euforia, alegria e também confraternização. No meu entender, o Carnaval embriaga a tristeza, e os pobres se contagiam com o glamour dos ricos. Durante o carnaval, o normal é haver uma prega na tristeza. É festa de ricos e pobres, não se falando em presentes natalinos, “perus do natal” ou bebidas caras.
Por isso, sou fã do carnaval.
Carnaval é uma festa popular marcada pelos exageros. Tem forte ligação com o catolicismo e possui relações com festivais realizados na Antiguidade.
O Carnaval chegou ao Brasil durante a colonização e transformou-se na maior festa popular do país.
Apesar do forte secularismo presente no Carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a Quaresma. O Carnaval não é uma invenção brasileira, pois sua origem remonta à Antiguidade. O secularismo é a separação entre o Estado e as instituições religiosas, que garante a liberdade de crença e a igualdade de tratamento para todas as religiões.
A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar os desejos dos fiéis.
A história do Carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma brincadeira de origem portuguesa que, na colônia, era praticada pelos escravos. Nela, as pessoas saíam às ruas sujando umas às outras, jogando lama, urina etc. O entrudo foi proibido em 1841, mas continuou até meados do século XX.
Depois, surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos, e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais foram incorporados, posteriormente, à maior manifestação cultural do Brasil.
A primeira marchinha de carnaval brasileira, Ó Abre Alas, foi composta por Chiquinha Gonzaga em 1899. A marcha-rancho Ó Abre Alas foi criada para embalar o desfile do cordão Rosa de Ouro, no Rio de Janeiro.
Ó Abre Alas é a composição mais conhecida de Chiquinha Gonzaga e aquela de maior sucesso.
Repetindo, a canção foi feita para o Cordão Carnavalesco Rosa de Ouro, citado na letra. O sucesso é considerado a primeira marcha carnavalesca da história.
Na época, Chiquinha Gonzaga morava no Andaraí, já era compositora consagrada, quando integrantes do Cordão a procuraram com o pedido de um “hino” para as folias momescas daquele ano, como registrou o historiador Geysa Bôscoli, seu parente. Apesar de sua posição, não refutou o pleito que resultou na vitória do Cordão no carnaval. Era comum, naquele tempo, os cordões entoarem versos que anunciavam sua passagem, e a marcha de Chiquinha antecipou um gênero que só veio a se firmar duas décadas após.
Entre os anos 1901 e 1910, “Ó Abre Alas” foi grande sucesso nos carnavais, tornando-se símbolo do carnaval carioca, até os dias atuais.
Violante Pimentel – Escritora