O ASTRO REI –
Na década de 1950, o futebol potiguar vivia um momento de glória, com as suas duas maiores e melhores equipes do Estado: ABC e América Futebol Clube.
Times que se revezavam na busca incessante de títulos. Época de um futebol vibrante, que contava com peças genuinamente potiguares.
O palco maior desses belos e envolventes confrontos era o Estádio Juvenal Lamartine (o JL), que se enchia de torcedores nas tardes de domingo e nas quartas-feiras à noite.
Tudo era festa, tudo era alegria.
Um detalhe chamava a atenção: a participação das fortes e belas equipes de aspirantes (assim eram chamadas), fazendo a preliminar dos jogos principais. Fato que motivava a chegada mais cedo dos torcedores ao Estádio.
As equipes contavam com excelentes jogadores, que muito bem poderiam fazer parte da equipe titular.
Certa feita, em um desses clássicos, o goleiro titular do América FC, Gerim, contundido, não pode atuar, sendo substituído prontamente pelo bom reserva Castilho (qualquer semelhança com o famoso goleiro Castilho do
Fluminense carioca não era pura coincidência). Bom goleiro, de boa altura, beirando 2 metros de altura, mãos largas e grandes (só comparadas as do boêmio e seresteiro Luiz Tavares), de privilegiada verve e prazerosa cultura poética musical.
Domingo, casa cheia, previsão de um grande espetáculo; torcidas vibrantes e numerosas. Uma tarde de muito calor e sol causticante.
Na tirada dos times, os goleiros se posicionavam da seguinte forma: um na entrada do Estádio (no gol de entrada) e o outro, na trave de fundo, de frente para o sol.
O América FC, com o seu goleiro aspirante Castilho, ficou na trave de fundo.
Aos vinte e cinco minutos iniciais de jogo, o craque, o grande ídolo do alvi-negro, o pequeno-gigante Jorginho, chuta uma bola alta, sem muita força. O goleiro Castilho, duramente castigado pelo clarão do sol em sua frente, não
consegue enxergar e evitar a entrada da bola — gol, gol do ABC. Um frangaço.
A torcida do mais querido vibra e comemora festivamente. Os torcedores americanos xingam o goleiro rubro. O quarto-zagueiro, Dico Gavião, grosso e brabo todo, vai pra cima de Castilho e diz: que frango Castilho! Porra!
Castilho, educadamente, responde: Dico, calma, não tive culpa. Foi o Astro Rei que me atrapalhou.
— Quem? Que merda nenhuma de Astro Rei! Foi Jorginho com um peteleco de fora da área, seu frangueiro!
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br
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