Josildo era escriturário do Banco do Brasil, em Natal, e exercia a atividade de caixa executivo. Década de 60/70. Nesse tempo, ainda não havia caixa eletrônico. Os caixas eram sobrecarregados, e o trabalho requeria muita atenção.
Ali, na “boca do caixa”, concentravam-se os serviços bancários mais comuns. Informavam-se saldos e extratos, recebiam-se depósitos, e pagamentos, faziam-se transferências, entregavam-se talões de cheques etc.
No final do expediente, se houvesse diferença de valores, o caixa seria obrigado a repor.
Num dia de grande movimento, enquanto Josildo atendia a uma fila interminável de clientes, um senhor, aparentando um pouco mais de 50 anos e de aparência simples, aguardava sua vez. Ao ser atendido, disse que morava no interior e era dono de uma pequena propriedade rural. Pediu o saldo, o extrato e um talão de cheques.
De posse dos comprovantes solicitados, o cliente preencheu um cheque, no valor total do dinheiro que havia em sua conta corrente, até o último centavo. Fez o saque e se afastou um pouco. Ali mesmo, contou todas as cédulas e moedas recebidas. Em seguida, sem entrar na fila, pediu ao caixa para depositar novamente todo o dinheiro sacado. Admirado e curioso diante desse fato inusitado, Josildo recebeu o depósito, contou o dinheiro, mas não se conteve e falou:
-Amigo, não entendi o que aconteceu. O senhor sacou todo o seu dinheiro que estava depositado no Banco. Contou tudo, e agora está depositando novamente. O que foi que houve?
O homem respondeu:
– Eu queria somente conferir se o dinheiro estava certo. Contei tudo e vi que esse Banco é bom mesmo. O dinheiro está completo. Por isso, estou depositando aqui novamente.
Josildo prendeu o riso. Mas em casa, riu demais, comentando a ocorrência com a esposa. Era caixa do Banco do Brasil há 18 anos e nunca havia se deparado com um cliente tão desconfiado dos serviços bancários.
Violante Pimentel – Escritora