O CONTRASSENSO –

Há mais de duzentos dias vivemos uma verdadeira guerra no enfrentamento com a covid-19. Perdemos milhares de vidas, amigos, familiares, vizinhos; perdemos um número significativo de pessoas da linha de frente do combate: médicos, paramédicos, funcionários administrativos dos hospitais; um horror, um tsunami mortal.

Momento de tristeza inimaginável ver famílias e mais famílias não podendo sequer sepultar seus entes queridos.

Diante de tanto sofrimento, de tanta tristeza, a ciência vem procurando a todo custo tomar conhecimento sobre essa nova e inesperada doença; do seu alto poder de transmissibilidade e letalidade; da observância e do acompanhamento do dia a dia da sua evolução; a pesquisa incessante de vacinas; a exigência rigorosa com as medidas sanitárias profiláticas: o distanciamento social com todo rigor, o cumprimento do uso da máscara e a prática corrente da lavagem das mãos e o uso do álcool em gel.

Na contramão de tudo isso e remando contra uma maré brava, o Superior Tribunal Eleitoral (STE) e o Ministério Público Eleitoral (MPE) autorizaram para novembro próximo as eleições municipais, sem ao menos consultar as autoridades médicas sanitárias; sem acompanhar seus diários evolutivos.

Como fazer campanha política sem juntar pessoas? Como evitar aglomerações no calor de uma disputa política? Como obedecer às normas sanitárias que vêm dando resultados positivos, mostrando e revelando a queda do número de infectados e de mortes pelo coronavírus?

Não é um estupidez sem limites? Uma irracionalidade?

Aglomerações e mais aglomerações em comícios promovidos no interior do Estado, em francos, vibrantes, e febris festejos eleitorais, sem nenhuma obediência às normas médicas e sanitárias exigidas. Nem aí para o coronavírus!

Em palavras finais: com esse cenário aberto e escancarado, o coronavírus vai permanecer mais tempo no nosso meio.

Mais pessoas serão contaminadas e muitos morrerão ainda. Tudo por pura teimosia e irracionalidade humana.

Resta-nos saber quantas velas serão acesas e quantas famílias ainda não vão poder sepultar seus entes queridos

É o contrassenso vencendo o bom senso.

 

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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