O CORDEL DE FEIRA: CRIATIVIDADE MAIOR PARA AS HISTÓRIAS SERTANEJAS – Luiz Serra

O CORDEL DE FEIRA: CRIATIVIDADE MAIOR PARA AS HISTÓRIAS SERTANEJAS –

A partir de 2012, enveredei por quatro anos em árdua pesquisa a respeito do fenômeno do cangaço, entre conversas com testemunhas daquele tempo, vista de jornais de época, documentos e registros, leituras de cordel, confrontos de dados com notáveis pesquisadores, como meu amigo João de Sousa Lima e o cordelista e xilógrafo Jota Borges, sempre tendo ao lado o meu imprescindível e inescapável Dicionário do Folclore Brasileiro do Mestre Câmara Cascudo.

Quanto mais catalogava a papelada para compor cada passagem de confrontação, seja certidão de cartório da época, seja cena de um fugaz saqueio em uma vila ou fazenda, imagens de tantas narrativas, mais se confirma a incrível diversidade de interpretações saídas do fundo da cena sertaneja. Rememoro agradáveis prosas com um
remanescente daqueles tempos guerreiros, o professor José d’Andrade Nóbrega, paraibano, filho do coronel Inocêncio Nóbrega, cunhado do célebre Coronel José Pereira de Princesa Isabel.

Em alguns eventos celebrados da história cangaceira, optei por escolher a versão do cordel, por ser de uma criatividade antológica, como a invasão do proto bando de Lampião à cidade de Água Branca, sertão alagoano. Do cordel saiu a versão da similaridade da estratégia de Virgulino durante o ataque ao posto de polícia tal qual o cavalo de troia, “adaptado” para a representação de uma carroça com uma tolda de lona escondendo cangaceiros armados. Histórias que solidificaram a lenda e o folclore. Nessa teia de puro talar nordestino não pode faltar as prédicas à janela de Juazeiro, do Padim Cícero Romão.

Engenhosos nossos autores dos Folhetos daquela época, que mais à frente no tempo passaram a ser chamados de Cordéis, que se espalhavam à entrada das feiras sertanejas. Espaços de mercadejo que se viam como as livrarias do sertão cordelista.

Há uma renovação de ótimos cordelistas de tempos recentes, ressalto um amigo xilógrafo Jota Borges, de Bezerros, Pernambuco. Dos históricos a que consultei estão os engenhosos Leandro Gomes e Barros, paraibano de Pombal; Francisco das Chagas Batista, Paraibano da Vila de Teixeira, com folhetos da nascente gesta do cangaço; João Martins de Athayde, poeta e editor de folhetins, também paraibano de Ingá. Notabilizados pelos milheiros de cordéis que viraram cantos através do tempo sertanejo.

No meu ensaio polifônico do cangaço, a que intitulei O sertão anárquico de Lampião, irremediavelmente extraído dessa fonte luminosa do cordel de tantas histórias, inspiração para que façanhas e tragédias pudessem novamente serem reproduzidas para os ávidos leitores.

Desta forma, que assim esteja posto: Louvado seja, nosso Padim!

 

 

Luiz SerraProfessor e escritor
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