O CORVO –
Ave da família dos corvídeos,  o corvo é caracterizado pela sua plumagem preta e é encontrado em quase todos os continentes. Popularmente, é considerado um animal aziago, agourento e azarento. Tem gente que se benze três vezes e faz figa quando avista um corvo, coisa rara de acontecer. São predadores e se alimentam de carniça.
No entanto, na literatura e demais artes, o corvo também simboliza algumas características positivas, como a sabedoria, a astúcia e a fertilidade, principalmente como tema central de histórias fantásticas e de  terror.
Na Mitologia Grega, o corvo era consagrado a Apolo, Deus da luz do Sol, e para eles essas aves desempenhavam o papel de mensageiro dos deuses, visto que possuíam funções proféticas. Por esse motivo, esse animal simbolizava a luz, uma vez que para os gregos, o corvo era dotado de poder para conjurar má sorte.
O escritor estadunidense Edgar Allan Poe se imortalizou através do poema de sua autoria, O Corvo, (The Raven, no original em inglês), e se popularizou como um dos autores mais icônicos do romantismo sombrio.
Os corvos tem as seguintes peculiaridades,  que os tornam animais misteriosos e macabros:
São necrófagos (comem cadáveres); imitam o tom de voz de alguns animais incluindo os humanos; são predominantemente pretos, a cor atribuída tradicionalmente às trevas e ao que é obscuro e maligno.
Apesar da conotação negativa atribuída ao corvo na maioria das culturas ocidentais, diversas mitologias antigas tinham esta ave como um símbolo de proteção, fertilidade, regeneração e mensageiro de boas energias.

Devido ao seu tamanho, sociabilidade e suas habilidades defensivas, o corvo tem poucos predadores naturais. Como predadores de seus ovos, existem as corujas, as martas e outros corvos.

Pois bem.-   Conta uma fábula milenar que, em uma determinada época da humanidade, os homens, cansados das agruras da guerra e dos horrores da caserna, resolveram fazer um pacto de paz.

Não haveria mais guerras, e eles passariam a viver num mundo de paz, com a política da boa vizinhança. Haveria controle sobre as ambições humanas, e todos seriam felizes.

A ideia mereceu os mais fortes aplausos do Olimpo e de todos os lugares.
Porém, como para tudo na vida sempre existe um “porém”, surgiu um conflito inesperado, com uma profunda discordância da ideia de paz, diante daquela plataforma de civismo e humanidade apresentada pelos animais.

Os responsáveis pelo conflito eram os corvos, que se mostraram dissidentes e indignados, ao saberem do “absurdo” pacto de paz entre os humanos, que somente a eles traria prejuízo.

Houve inúmeros discursos polêmicos e agressivos, nos quais os corvos, ótimos parlamentares e extraordinários oradores, protestavam, apresentando narrativas com a finalidade de derrubar a proposta do pacto de paz. Os corvos diziam que o sentimento da guerra fazia parte da natureza humana. Ninguém mais do que eles entendiam desse assunto e somente eles conheciam as delícias da guerra, diante da grande quantidade de cadáveres que ela gerava.
Os corvos gritavam indignados, que a paz levaria o homem à ociosidade, mãe de todos os vícios. Diziam também em seus discursos acirrados, que as vicissitudes das guerras fazem o homem forte, corajoso, apto para o trabalho e para a luta. Sem as guerras, o homem  não poderia defender a Pátria ultrajada, nem poderia vingar a honra nacional, quando manchada pelos inimigos. Sem a guerra, deixaria de existir o mais belo sentimento do homem: o Amor à Pátria.
Esses eram os argumentos dos corvos, em defesa das guerras.
As narrativas dos corvos venceram e as guerras continuam campeando.
O patriotismo dos corvos, entretanto, estava intrinsecamente ligado ao estômago. Quanto mais guerras, mais compensações eles teriam. Com as guerras, a cadeia alimentar dos corvos  estaria garantida. Os cadáveres dos soldados insepultos lhes oferecem lautos banquetes.

Nos dias atuais, não falta quem, como os corvos, aferre-se com unhas e dentes, em defesa de uma ideia, falando em nome do patriotismo, da civilização e do civismo, quando,

na realidade, estão defendendo a ganância pelo dinheiro público e a insaciável ambição pelo ouro e pelo poder.  Essa disputa leva o ser humano a cometer os mais bárbaros crimes.
Estamos vivendo a era dos corvos e do seu verdadeiro “patriotismo”.
Violante Pimentel – Escritora
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *