O DER DO RIO GRANDE DO NORTE –
Eu me formei em Engenharia Civil pela UFRN, em 1969. Quando ingressei na universidade para me graduar na profissão que abracei abdiquei de carreira no Banco do Brasil, obtida mediante concurso em 1964. Na época, um dos melhores e mais bem remunerados empregos do serviço público do país.
Ao integrar o quadro de profissionais do Departamento de Estradas de Rodagem, em 1970, dirigia o órgão o engenheiro Fernando Bezerra e governava o Rio Grande do Norte o monsenhor Walfredo Gurgel. A nata da engenharia potiguar trabalhava no DER que, anos atrás, servira de esteio oferecendo profissionais qualificados em diferentes áreas, para a fundação da Escola de Engenharia da UFRN.
Puseram-me à frente do III Distrito Rodoviário do órgão, sediado em João Câmara. Seria uma tarefa salutar e tranquila não fosse a peculiaridade do momento: a seca de 1970. Tive que lidar com 16 mil flagelados da região do Mato Grande e adjacências para os fazer trabalhar na construção de estradas de rodagem de forma rudimentar. Conhecer de perto o drama e as consequências da estiagem no Nordeste foi uma grande lição e experiência inusitada na minha vida profissional.
O DER, nessa época e em governos anteriores, funcionava como um coringa na administração pública do estado. Além de construir e conservar estradas atuava em diferentes setores solucionando problemas de toda ordem e natureza. Foi instado a edificar conjuntos residências e escolas, construir açudes, sempre à disposição de diferentes governantes do Palácio Potengi.
Dispunha, originalmente, de um quadro funcional composto por 1.200 servidores, dentre os quais 55 engenheiros. Hoje restam 230 funcionários em atividade e apenas 6 engenheiros – quatro emprestados por outras repartições.
Mantinha distritos rodoviários em sete regiões chaves do estado: Mossoró, Caicó, Nova Cruz, João Câmara, Pau dos Ferros, Santana do Matos e Natal. Possuía laboratórios de solos, oficinas mecânicas e variados equipamentos rodoviários. Trabalhava com a eficiência esperada de uma repartição pública modelar com ações dedicadas ao que se propunha executar.
É verdade que existia o endosso financeiro do Fundo Rodoviário Nacional criado em 1945, o qual seria extinto em 1988. Tal perda atingiu a todos os DERs do país que, ainda assim, conseguiram manter as suas atividades fins preservadas. Nada justifica o estado de penúria do DER-RN, senhor da obrigação de preservar uma extensa malha rodoviária.
Todos os distritos rodoviários estão fechados, terrenos e edificações do DER sendo ocupados por outras repartições. Há décadas não acontecem concursos públicos para repor os seus quadros técnico e administrativo. Formar um engenheiro rodoviário requer tempo e muita dedicação. O panorama do órgão, no momento, nos leva a crer na manifesta intenção de ver fenecer por inação as atividades de uma das mais importantes repartições do estado.
São 4.800 quilômetros de rodovias pavimentadas e não pavimentadas sob a responsabilidade do órgão. Se tal fato acontecer, o estado ficara capenga de responsáveis pela manutenção, ampliação, construção, fiscalização e elaboração da política e de estudos técnicos para a resolução de problemas relacionados ao sistema rodoviário sob a sua competência.
Afinal, o modal rodoviário ainda é o meio de transporte primordial para a locomoção de cargas e pessoas no país. É uma lástima tamanho desprezo pelo incalculável patrimônio público representado pelas rodovias do Rio Grande de Norte.
José Narcelio Marques Sousa – engenheiro civil