O DESAFIO DE DEUS –
O Livro de Jó, integrante dos livros poéticos da Bíblia, é a mais pura e sublime poesia hebraica. Revela um homem de resistência heroica diante do sofrimento.
Era comum, no tempo de Jó, a crença de que a prosperidade material era contrapartida de uma vida de retidão. De acordo com tal ideia, só o homem justo era abençoado por Deus. Esta foi a premissa dos argumentos dos amigos de Jó. Levaria, portanto, à conclusão de que todo sofrimento resultaria do pecado. Mas ele vivia de acordo com os ensinos religiosa daquela época. A explicação para a sua adversidade devia ser outra, e ele estava disposto a lutar, em meio à sua aflição, até que a encontrasse.
Milênios se passaram desde que se escreveu esta experiência para conforto e edificação do povo de Deus. As lições que nela aprendemos sãos para os homens de todos os tempos. Aplicam-se, com maior precisão ao homem do nosso século, que vive perturbado, perplexo, sem esperança, esmagado por um sem número de preocupações e incertezas. Nos momentos de desespero, vemo-lo duvidar da sabedoria e do governo de Deus no universo. Enfrenta o mesmo problema de Jó: CONHECIMENTO DEFICIENTE DE DEUS.
I – A RESPOSTA DE DEUS AO DESAFIO DE JÓ
No capítulo 38 do Livro de Jó, encontramos o início do embate entre Deus e Jó. Deus havia sido várias vezes desafiado por Jó, que não compreendia a razão da sua dor. Daí por diante se inverteram os papéis. Jó, o inquiridor, passou a ser interrogado. É de real importância o fato de Deus falar ao homem. O propósito divino é sempre a revelação de um amor que o homem desconhece. Quando o silêncio de Deus é quebrado, o homem deve atender com santa reverência o que vai ouvir.
As perguntas divinas que Jó não pode responder eram o plano de Deus para que ele compreendesse a falsidade da posição que havia assumido, e quão limitado era o seu conhecimento.
Deus aceita o desafio do homem, não pelo prazer de derrotá-lo, mas para levá-lo a uma nova experiência em que possa sentir que há um Deus no universo e, mais importante ainda, que esse poderoso Deus se entende com o homem a quem ama e de quem cuida como Pai. Ele quer dizer ao homem que a grandeza do seu amor não é menor do que a grandeza do seu poder.
II – A GRANDEZA DE DEUS REVELADA
Aqui tem início uma série de perguntas divinas. São extraídas do mundo físico e revelam a grandeza de Deus na criação e no governo do universo. Jó não tinha condições de responder a nenhuma delas. Submetido a exame, foi reprovado logo na primeira questão. Teria de responder NÃO SEI, quando Deus lhe perguntou: “onde estavas tu, quando eu lancei os fundamentos da terra? ”.
À pergunta sobre quem havia fixado as medidas da terra, a melhor resposta de Jó teria sido: “Tu o fizeste”. Seu mundo era pequeno demais para que ele conhecesse as proporções do globo terrestre. Como também não sabia quanto ao valor tonal da luz, que hoje se sabe graças às maravilhas da física moderna. Só poderia soar estranha aos ouvidos de Jó a pergunta sobre o coral formado pelas estrelas.
Deus conduziu o interrogatório de modo que Jó, por si mesmo, chegasse à conclusão de que o homem não é nada em poder e sabedoria quando comparado a Deus.
No início de sua provação Jó pensava assim. Chegou a declarar que se Deus submetesse o homem a um exame, este não lhe responderia nem ao menos uma pergunta em mil. Depois, mudou de opinião. Era preciso cair em si para ver que a grandeza de Deus é maior do que a compreensão do homem, e que a sabedoria de Deus ultrapassa a capacidade que o homem tem de investigar. Diante do espelho da majestade divina, o homem vê melhor a imagem da sua própria pequenez.
III – ARREPENDIMENTO, SUBMISSÃO E RESTAURAÇÃO
No final do livro, mais precisamente no capítulo 42, nós temos a reação de Jó ante a visão que teve de Deus. Revela que ele compreendeu pelo menos três coisas:
- a) a grandeza de Deus quando afirmou: “bem sei que tudo podes”.
- b) a tolice de discutir assuntos que estavam muito além da sua compreensão.
- c) o seu pecado, por não ter sido humilde e sábio e por haver feito exigências a Deus.
Agora, que ele alcançara outra noção de Deus – e esse era o propósito de Deus com a provação – convenceu-se de sua própria pequenez e de sua pecaminosidade, diante da grandeza e santidade divinas. Então exclamou humildemente: “Falei do que não entendia…Eu te conhecia só de ouvir, mas agora te veem os meus olhos, pelo que me abomino e me arrependo no pó e na cinza”.
A base do verdadeiro arrependimento está numa clara visão de Deus. Vemos nossas imperfeições e injustiças à luz da santidade de Deus: à luz da grandeza e do seu poder, vemos as nossas limitações e fraquezas; mas à luz de sua graça e misericórdia vemos a nossa salvação e esperança.
CONCLUSÃO
Todos somos atingidos pelas provações. Quando elas baterem à nossa porta, o segredo da vitória e da resistência vai depender da ideia precisa que tivermos de Deus. De outro modo não compreenderemos que Deus faça com que todas as coisas contribuam para o nosso bem.
Deus libertou Jó dos seus sofrimentos. Deus, porém, nem sempre livra o homem da provação; pode até valer-se da provação para libertá-lo. Ele faz o que julgar necessário e conveniente. Tanto para livrar da fornalha de fogo ardente como dar graça e coragem para que suporte vitoriosamente a provação.
Embora nuvens encubram o sol da nossa vida, as sombras da hora presente fazem que lancemos o olhar para mais longe, onde sabemos que tudo é luz.
Josoniel Fonsêca – Advogado, professor universitário, membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, [email protected]