O DIA DE MEU NASCIMENTO –

Conheço pessoas que no dia do aniversário, sentem vontade de se afastar do mundo ao qual pertencem e, caso fosse possível, até de se esconderem em uma caixinha de papel ou no topo de uma árvore, não para evitar os parabéns tão comuns à data, mas para poderem meditar sobre a vida que têm vivido.

Guardo gratas lembranças das datas em que celebrei meu nascimento. Em muitas delas realizei sonhos inesquecíveis, como quando completei quatorze anos, e, por fim, pude ter acesso livre aos filmes censurados, então exibidos nos cinemas São Luiz, Rex, Plaza e Ideal, sem necessidade de usar o bigode postiço afixado por meu pai, para parecer mais velho perante os fiscais de menor que neles trabalhavam. Como esquecer o dia em que cheguei aos dezoito e prestei exame de motorista, obtendo autorização oficial do Detran para dirigir o Renault Gordini de propriedade da família? Quantas alegrias…

Recordo, também, inúmeras oportunidades quando, parando para pensar, mais solidifiquei como verdade o fato de que as pessoas nascem com a difícil tarefa de aprender a conviver consigo próprias e também aceitar que as certezas de uma época, com o decorrer dos tempos, não são tão certas assim, como os amigos das brincadeiras de infância, imaginados eternos… Ou aquela cidadezinha do interior que teimava em manter incólume no coração para, quando lá retornasse, poder continuar criança. As longas conversas com pessoas queridas, como meus bisavôs, avós e até meu pai, sempre imaginados como imortais, e tantos outros atos, componentes da ópera de minha vida.

À medida que os cabelos cor de prata se espalharam por meu corpo, definitivamente me conscientizei de que o ser humano possui somente dois momentos importantes na existência: O primeiro se estabelece no nascimento, enquanto o segundo surge quando ocorre o amadurecimento, fortalecido a cada novo fato, envolvendo o cidadão. Um simples tropeço em um desnível do piso de sua própria casa é suficiente para se entender que o menino de outrora, somente existe nas lembranças dos tempos dourados de peraltices inesquecíveis.

Se bate aquela saudade de tudo quanto passou, facilmente assimilamos ser, tal sentimento, característico de quem consegue não somente amadurecer, como tomar decisões, esquecer, transformar, afastar-se dos problemas e nunca mais voltar, procurando somente amar quem merece ser amado.

No meio de tantas mudanças, é muito fácil constatar o crescimento pessoal, e como o antigo “eu” ficou para trás. Nesta situação, compreendi que fazer aniversário  é, não somente colher migalhas na fatia do tempo, mas, acima de tudo saber acreditar que o maior presente a ser recebido, em cada dia da idade nova, é a preocupação de sempre estar suficientemente perto de si próprio, sendo rima e verso, ao mesmo tempo. É ser feliz, podendo ter consigo, quem hoje lhe torna feliz. Estou de parabéns. Nesta semana vivenciei mais um dia do meu nascimento.

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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