O DIÁLOGO DA VACINAÇÃO –
Tenho conversado muito com amigos, com colegas através dos meios de comunicação virtual tentando matar o tempo de confinamento compulsório. Por mais que queira fugir e tirar da rota o assunto – pandemia –, tem sido muito difícil, praticamente impossível.
Há pouco, no meu recreio praiano de veraneio na praia de Pirangi,
tocando e jogando conversa fora com o meu fiel escudeiro praiano, Sobral, homem acostumado e antenado às notícias nacionais e internacionais, fui por ele indagado sobre a vacinação que ora se inicia no Brasil. Argumentou ele:
– Doutor, a vacinação começou e tem mexido e esquentado muito o meu perturbado e confuso juízo.
– O que tanto tem lhe infortunado, Sobral?
– Veja só: estão vacinando primeiro os velhos. Certo! Com toda razão. Eles são realmente fraquinhos. Mas, Doutor, são eles quem mais obedecem os pedidos dos doutores da saúde. Ficam trancados em casa, não botam nem a cabeça de fora na janela e usam até máscaras dentro de casa. O que me batuca é saber que quem mais cuida e vive com o velho é o moço; e também é o moço que mais vive na boa, em todas as festanças e em todas as bagunças, sem ligar pra nada e pegando, e se enchendo do danado desse bichinho chinês. Assim, Doutor, não sai da minha caixola que é o moço quem mais contamina o velho. Vendo assim, por que, então, não começar vacinar primeiro o moço?
– O problema, Sobral, é que têm poucas vacinas. E os idosos são os primeiros a morrerem quando contaminados, daí o motivo de serem logo vacinados. Mesmo assim, pensando bem, tem fundamento o seu pensamento, a sua preocupação.
– Por que também não deixar os empresários cheios da grana comprarem e vacinar os seus funcionários e sua gente? Assim, sobraria vacinas pra muita gente.
O que existe de verdade é que estamos assistindo assombrados, assustados e com muito medo dessa cruel e dolorosa mortalidade dos nossos irmãos brasileiros.
— É Doutor, tem muito “bichinho” nas ruas pegando e matando o povo e poucas vacinas pra matá-los. Estamos perdendo feio e de goleada esta briga.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]