O DÓLAR CAIRÁ EM 2024?
Os mercados de câmbio são perigosos para prever.
Eles nunca são movidos apenas por fundamentos econômicos.
A política, o sentimento, a psicologia e a geopolítica também desempenham um papel.
Sem dispor de uma bola de cristal é difícil prevê o que poderá acontecer com o dólar americano, em 2024.
A grande dúvida é se a moeda mais importante do mundo está caminhando para um mercado em baixa, com movimento sustentado para queda.
O dólar americano tornou-se reserva mundial em 1945, com a introdução do sistema de Bretton Woods.
Os EUA, que controlavam então dois terços das reservas mundiais de ouro, introduziram um novo padrão-ouro fixado no dólar.
Os Acordos de Bretton Woods viram os países garantirem a sua capacidade de converter as suas moedas nacionais em dólares.
A libra esterlina foi eliminada como principal moeda de reserva.
A propósito da inclusão do dólar, em 1945, como moeda de reserva, o atual cenário global comprova que vem caindo o o status como uma moeda segura.
Muitos países procuram alternativas ao dólar.
Além de mudanças para outras moedas, muitos bancos centrais têm comprado ouro, em ritmo recorde.
De janeiro a setembro de 2023, eles compraram mais ouro do que em qualquer período de nove meses.
O preço do ouro, que normalmente se move inversamente para o dólar americano, está em uma alta histórica de mais de US $ 2.000 a onça.
Com todos esses fatores em jogo, analistas internacionais ainda ousam opinar sobre a queda ou ascensão do dólar em 2024.
Em 2023 teve o seu pior desempenho, desde 2020.
A unanimidade é que embora haja um forte argumento para o dólar enfraquecer em 2024, existem forças que podem impedir.
O principal fator da possível queda é se bancos centrais de todo o mundo intensificarem a tendencia para cortar as taxas de juros.
Entre os principais mercados desenvolvidos, o Federal Reserve americano “poderá” liderar a tendência de corte de juros.
Isso ocorrendo, o dólar provavelmente continuará a cair moderadamente à medida que diminuem as diferenças de rendimento entre os EUA e outros países.
Entretanto, a boa notícia é que na última semana, o Banco central americano manteve taxa de juros nos EUA pela 4ª reunião seguida e evita sinalizar cortes.
Diante do fato, a maior economia do mundo – USA – cresce a um ritmo mais rápido do que o esperado.
Isso fez que o Federal Reserve mantivesse as taxas de juros.
Todavia, as flutuações são inesperadas e podem acontecer.
Dólar mais fraco significa que as exportações do Brasil continuam fortes, impulsionadas pelo aumento das vendas externas no setor agrícola e pelos preços ainda altos das commodities.
Ou seja, com o dólar alto na exportação é mais dinheiro entrando para a economia do país.
A consequência imediata da queda do dolar seria turbinar ativos alternativos como o ouro – que já está sendo negociado em níveis recordes – e até mesmo o “Bitcoin” (um dinheiro eletrônico para transações financeiras ponto a ponto), que aumentou nas últimas semanas, após um longo período de fraqueza.
Com taxas de juros mais baixas nos EUA, a previsão é de maior estímulo à economia global, reduzindo os elevados encargos das dívidas dos países emergentes.
O dólar e o ouro deverão manter mais ou menos seus valores, dada expectativa de muitos riscos geopolíticos.
O iene tem chance de valorizar-se.
Os argumentos econômicos sobre a posição do dólar no mercado global são ameaçados pelos fatos imprevistos.
Exemplo é o aumento dos preços do petróleo, desde o início de 2024.
O motivo são os ataques dos “houthis” em navios comerciais no mar Vermelho, que forçaram milhares de navios a tomarem a rota mais longa pela África do Sul, o que aumenta os custos de combustível.
A previsão é que atinja um pico de US$ 85 (R$ 420,09) por barril, em junho de 2024
Em conclusão, para o dólar americano fazer mal, alguma outra moeda deverá fazer bem.
Isso não está acontecendo.
A zona do euro e a China estão sofrendo com o fraco crescimento e também podem cortar as taxas de juros.
A desvalorização da moeda americana prejudicará esses países europeus e asiáticos.
Se os EUA entrarem em recessão, suas economias também serão atingidas, o que limitaria a tendencia de suas moedas subirem.
Embora o declínio do dólar possa ocorrer, cabe lembrar, o que disse certa vez o economista John Maynard Keynes:
“ essa queda pode acontecer a longo prazo e estaremos todos mortos”.
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – [email protected]