O ENEM E O SONHO DOS JOVENS –
Mesmo nutrindo grande preferência pelas ciências exatas, nunca deixei de crer fosse pelo prazer de estudar ou simplesmente para tomar conhecimento das coisas do mundo, ser a prática da leitura responsável por aprimorar o vocabulário, dinamizar o raciocínio, a interpretação e, acima de tudo, fortalecer a escrita.
Sempre digo ser engenheiro por formação, mas, sobretudo, docente por vocação. Ainda muito cedo, com os cabelos pendentes nos ombros e barbas negras a cobrir o rosto, lecionei em escolas de línguas estrangeiras, colégios diversos de Maceió e, por fim, na UFAL, a centenas de futuros Arquitetos e Engenheiros.
Quando nas salas de aula, sempre busquei inspiração na poesia de Renato Russo: “ainda que eu falasse a língua dos homens, ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor, eu nada seria”. Naquelas situações especificas o sentimento amor sempre esteve representado por extremo respeito aos sonhos de meus alunos.
Adotei como norma mostrar, aos futuros colegas de profissão, ser essencial eles jamais esquecerem seus sonhos porque trazem saúde às emoções, fazendo forte o frágil, renovando as forças do ansioso, animando os deprimidos e transformando os inseguros em seres humanos de raro valor, sendo capazes de levar os tímidos a adquirir golpes de ousadia tornando-os construtores de oportunidades.
Seguindo esta linha de raciocínio, ao ver o Brasil como foco de notícias capazes de abalar o emocional de milhares de alunos que, após estudarem bastante, na expectativa de conseguir uma vaga em Instituições de Ensino Superior, tristemente se depararam com manchetes, publicadas nos mais importantes periódicos do país, criando dúvida sobre o resultado do certame: “Funcionários do Inep e do próprio MEC disseram à Folha de São Paulo não ser possível ter 100% de confiança nos resultados do Enem 2019”. O pior, contudo, além do escândalo de hoje é constatar a similaridade do mesmo com o acontecido em anos anteriores. Tantas repetições negativas fazem a sociedade burocrática brasileira, aquela que cuida dos exames de admissão às Universidades, criar uma perigosa estufa intelectual destruindo a capacidade de sonhar de uma geração.
Recordo, na época em que prestei Exame Vestibular, inúmeros serem os que compravam gabaritos de provas, conseguindo aprovação nos cursos mais diversos. Esta era uma prática constante. Eu sabia ter de aprender muito, torcendo para que a fraude não fosse tão profunda em minha área específica. Nos dias atuais, segundo reportagens divulgadas nacionalmente, “ao identificar erros em notas do exame, o Inep refez a conferência dos desempenhos dos participantes, mas não recalculou a proficiência dos itens usados nas provas do certame”. Décadas atrás, infelizmente, já era assim! Minha angústia aconteceu no Século XX. Absurdo.
Importante é sabermos ser a vida um jogo. Perdemos em muitos momentos, mas, o que nunca devemos é admitir ficar no banco de reservas. Os prejudicados de hoje, desde que fortaleçam seus sonhos, serão os heróis de amanhã. Exemplos existem aos montes…!
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras
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