O ENXOVAL – 

Antigamente, era comum pessoas de Nova – Cruz irem, de trem, às compras em Guarabira – PB, onde o comércio primava pela excelente qualidade de produtos de cama, mesa e banho, com preços módicos. Era o comércio ideal para se comprar enxoval de noivas, coisa fora de moda nos dias de hoje, quando se encontra tudo do bom e do melhor em grandes lojas e armazéns da capital e até em cidades do interior, com a facilidade dos cartões de crédito.

No final da década de 60, quando chegou minha vez de comprar o meu enxoval de noiva, fomos eu e minha mãe a Guarabira (PB), no trem das dez horas, que vinha de Natal, para passarmos o dia fazendo compras, e regressarmos à noite, no trem de Recife.

Quando o trem chegou a Guarabira, minha mãe, de braço comigo, certa de que conhecia bem a cidade, pisou firme no chão à procura da rua do comércio, onde ficavam as lojas principais. Andamos a pé mais de uma hora, e nada de chegarmos ao comércio de Guarabira. Mamãe desconfiou de que estávamos perdidas, sem acertar andar naquela progressiva cidade, onde ela já tinha ido anos atrás, comigo mesma e a amiga Alzira Carneiro. Quando se convenceu de que tínhamos nos perdido, minha mãe pediu informações a um transeunte, que respondeu:

– Senhora, aqui é a zona do “baixo meretrício”. O comércio a que a senhora se refere é bem longe daqui, exatamente no lugar oposto a este. Vocês fizeram o caminho ao contrário. O comércio fica bem pra lá da Estação Ferroviária, voltando. E o ambiente aqui é “carregado.” É o comércio da prostituição.

Minha mãe, desapontada e com vergonha, agradeceu a informação e nós duas, apressadamente, iniciamos o caminho de volta. Demoramos quase uma hora para chegarmos à tão falada rua do comércio de Guarabira, onde se podia comprar enxovais de noivas por preços módicos.

Se arrependimento desse febre, naquela hora, estaríamos, minha mãe e eu, com mais de 40 graus.

Ao chegarmos ao bairro onde ficava o comércio, nossos ânimos serenaram aliviados, e imaginamos a cara aborrecida do meu pai, quando soubesse que a sua esposa e a filha de 17 anos foram “passear” na “zona” de Guarabira. Não paramos de rir.

Em Nova-Cruz (RN), a zona do baixo meretrício se chama “Rua do Sapo”, cujo acesso é um beco estreito, que fica na rua principal. Meu pai não permitia que passássemos nem pela calçada que dá acesso ao tal beco. I

Imaginei o semblante contrariado dele, quando soubesse que a esposa e a filha noiva, perdidas em Guarabira, foram bater na “zona do baixo meretrício”.

Minha mãe, muito católica, desabafou:

– Misericórdia, meu Deus! Que ideia infeliz a minha, de vir comprar o enxoval da minha filha aqui em Guarabira, podendo ter ido comprar em Natal!!!

A compra foi maravilhosa: Colchas de cama requintadas, guarnições completas de cama, mesa e banho, lençóis avulsos, além do tecido de cetim branco e brocado, para o meu vestido de noiva, que foi confeccionado por minha mãe. Juntando-se todas as compras, daria para se montar uma lojinha em Nova-Cruz (RN)… rsrs. Foi coisa demais.

Realmente, o comércio de Guarabira (PB), naquela época, era de dar gosto. O comércio de Nova – Cruz “não amarrava a chuteira”. Se bem que, hoje, as duas cidades se equivalem no que se refere ao progresso.

Nova – Cruz (RN) faz fronteira com a Paraíba, e há uma rua depois do Catolé (Bairro), onde a metade é RN e a outra é Paraíba. Dá gosto de ver.

Nessa viagem, para fazer compras em Guarabira, o estresse tirou nosso apetite. Não almoçamos e somente depois das compras, tomamos um sorvete.

Foi um alívio, ao chegarmos à Estação Ferroviária, para aguardar o trem de Recife para voltarmos a Nova -Cruz, onde só chegamos às nove horas da noite.

Seu Francisco, meu pai, estava a nos esperar na estação. Chegando em casa, minha mãe contou-lhe a nossa “odisseia” em Guarabira, onde nos vimos perdidas, sem saber andar na cidade. Minha mãe contou ao meu pai, que tínhamos nos perdido em Guarabira, indo parar na “zona do baixo meretrício”.

Meu pai, muito sisudo, disse: Muito bonito pra minha cara, Lia. Minha mulher e minha filha noiva, serem vistas na “zona” de Guarabira!!! E minha mãe, rindo, respondeu:

– Mas, Chico, foi sem querer… A gente se distraiu. Nem imaginava que aquilo fosse a zona. Não tinha nenhuma placa avisando! Eu não podia imaginar uma coisa dessa!

Só pode ter sido obra de Satanás!!!

Mas, graças a Deus, estamos aqui, sãs e salvas. Maior do que Deus, ninguém!

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *