O ESTRESSE – 

O esgotamento nervoso, ou estresse, é uma constante na sociedade atual, principalmente na chamada classe média.

A insegurança administrativa e financeira, em que vivem os servidores públicos e empregados de empresas privadas deixa-os em suspense, vendo a hora o Governo lhes puxar o tapete e  jogá-los na rua da amargura, contando seus trocados para sobreviver. Em cima disso, o Governo suga o que lhes sobra, extorquindo-lhes impostos exorbitantes e absurdos. Mas, nada melhor do que poder repousar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo; sentir-se em paz com a sua consciência, por não fazer parte, nem de longe, da família dos políticos que enriqueceram ilicitamente, e que hoje estão às voltas com a Justiça. Ninguém perde por ser honesto. Além disso tudo, o clima de impunidade e violência que assola o País deixa o homem do povo cada vez mais estressado.

A ansiedade e o medo completam o quadro de nervosismo por que passa o povo brasileiro.

Isso tudo torna atual o título do livro, do saudoso desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista brasileiro, Millôr Fernandes, “QUE PAÍS É ESTE?”

Pois bem. Para falar em estresse, palavra da moda, cujas consequências poderão ter fins trágicos, vai o caso de Jatobá, mais um nordestino, que, décadas atrás, iludido com o que ouvia falar da Cidade Maravilhosa, foi para o Rio de Janeiro, tentar ganhar a vida. Sua maior preocupação era arranjar um trabalho, que lhe permitisse mandar um dinheiro certo, mensalmente, para o sustento dos pais e irmãos, que moravam na zona rural de uma pequena cidade do interior nordestino.

No Rio, conseguiu emprego em uma empresa de vigilância, e com o passar dos anos, por ser um empregado competente e de toda confiança, passou a trabalhar no escritório da empresa. Ganhava uma boa gratificação, além do salário, e era comedido em seus gastos. Dessa forma, conseguiu seu intento, de poder ajudar seu pai no sustento da família.

Todos os meses, religiosamente, enviava-lhe uma boa ajuda e isso lhe dava a certeza, de que estava cumprindo com o seu dever de filho.

Gostava da cidade grande, apesar de viver assombrado com a violência das ruas. Morava no subúrbio, em companhia de dois amigos nordestinos.

Num dia de muita agitação, começo de mês, Jatobá, ansioso e preocupado com o tempo, sem almoçar, aproveitou o intervalo, para fazer a remessa do dinheiro ao pai. O vai-e-vem de transeuntes,  na  Praça 15,  era constante e interminável. Jatobá olhava para o relógio, controlando os minutos que teria para resolver seus problemas. Num dado momento, foi abordado por um rapaz bem parecido, que muito nervoso e agitado lhe falou:

– Corra, Seu José, volte pra Niterói! Sua casa está pegando fogo e sua mulher está lá dentro, com seu filho, gritando por socorro! Os bombeiros ainda não chegaram!!!

Jatobá entrou em pânico e, desesperado, tomou a barca “Cantareira”, para atravessar a Baía da Guanabara, e chegar a Niterói. Por alguns minutos, esqueceu do depósito que iria fazer.  Na sua cabeça, só via a esposa e seu filho prestes a morrerem queimados, no incêndio que estava destruindo sua casa.

Quando a barca alcançou a outra margem, Jatobá  teve um momento de lucidez e caiu na realidade:

-Ai, meu Deus! Eu não me chamo Zé, não tenho mulher nem  filho e não moro em Niterói!!!  O que foi que eu vim fazer aqui?!!!

E voltou na mesma barca para o Rio.

Violante Pimentel – Escritora
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