O FUTURO VALIOSO –

Albert Einstein dizia que “a distinção entre o passado, o presente e o futuro é somente uma ilusão persistentemente teimosa”. O maior de todos os físicos relativizou o tempo, transformando a sua uniformidade em ilusão. Por outro lado, Confúcio, filósofo chinês, já dizia há séculos, antes da era cristã, que ”se queres prever o futuro, estude o passado”.

Essa análise do tempo se torna imperiosa quando temos que tomar uma decisão. Vivenciamos um momento ímpar da história política do país. Temos o poder de decidir o futuro da nação. Convido a todos para uma análise crítica sobre o que queremos para o nosso futuro, baseado em fatos reais do passado.Os fatos concretos também podem ser apaixonantes na dependência da visão de quem os analisa. Por outro lado, não podemos nos iludir com as explanações, pois contra fatos não há argumentos.

É fato que a saúde pública brasileira sofre há décadas pela falta de financiamento e gestão. Sofre pelas decisões políticas e ideológicas equivocadas que não levaram em consideração a opinião daqueles que labutam na linha de frente. Enfrentou a maior crise sanitária mundial tendo demonstrado que somos capazes de encarar desafios.

É fato que a macrocorrupção dominou nosso país no passado recente e ceifou os anseios da saúde dos brasileiros.

É fato que as tentativas midiáticas de certos programas não passaram de cortinas de fumaça para turvar a realidade. O principal deles foi o programa “mais médicos” cujo o objetivo, aparentemente sublime, foi desvirtuado em dois principais aspectos. O primeiro deles foi a explícita desforra contra os médicos brasileiros, responsabilizando-os pela deformidade histórica da demografia médica. Existia uma má distribuição alheia à vontade dos médicos. O objetivo dessa audácia ideológica foi convencer a população que os médicos estrangeiros eram a melhor alternativa, sendo essa decisão sitiada de interesses duvidosos.Não funcionou, pois os médicos brasileiros continuaram figurando entre os profissionais de maior credibilidade para a população. A segunda desvirtuação desse programa foi a abertura indiscriminada de escolas médicas no país, muitas delas sem a mínima condição de funcionamento. Plantou-se uma semente cuja qualidade do fruto, apesar de previsível, será apresentada no futuro.

É fato que a saúde coletiva se inicia no atendimento das necessidades básicas do ser humano. Acesso a água e esgotamento sanitário foram historicamente negligenciados para uma parcela significativa da população. O atendimento a essa carência serámuito bem vindo, independentemente da sua origem. O cumprimento do marco legal do saneamento básico atualizado em julho de 2020, trará prósperos resultados para essa demanda.
É fato que as instituições médicas, sempre que foram acionadas, contribuíram de forma relevante nas tomadas de decisão. Temos uma autarquia formada pelo Conselho Federal de Medicina e Conselhos Regionais, a Associação Médica Brasileira com suas filiadas e sociedades de especialidades e as entidades defensoras dos direitos trabalhistas dos médicos. Todas, dentro das suas atribuições e competências, podem contribuir para um futuro melhor.

Baseado nessa breve apresentação de fatos, podemos prever que a saúde brasileira deseja estar diante de gestores que sejam capazes de dialogar com as representações médicas, que não contemporizem com a volta de programas que desvalorizem a dedicação profissional do médico e que foram ineficazes na solução dos problemas, que se preocupem com a formação médica e que operacionalizem a solução das demandas de saúde da população a partir das suas privações básicas.

O médico brasileiro circula por tempos históricos diversos. Enfrentamos um leque de condições de trabalho que vai desde dificuldades do século passado até as facilidades proporcionadas pelos diversos avanços da ciência. Transformar nossos diferentes tempos históricos em um único tempo que coincida com o tempo cronológico será o grande desafio da medicina.

O nosso passado nos ensina de forma transparente o caminho do futuro e o futuro é valioso para o país.

 

 

 

Marcos Lima de Freitas – Médico, ex-presidente do CREMERN

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