O GAROTO DE PROGRAMA –
Dias atrás Jesualdo ligou contando que presenteara seu neto primogenito com um celular, mas que o equipamento apresentou defeito, mesmo antes de ser usado.
Imediatamente levado à concessionaria, o atendimento foi realizado por uma Jovem, cabelos aloirados, que demonstrava, claramente, haver colocado o sorriso na poupança e naquele instante deveria estar à espera que o mesmo rendesse um pouco, para poder gastar com os clientes que a procuravam.
Após a verificação da nota fiscal, a sizuda recepcionista retirou-se por uns instantes, retornando, com a mesma frieza, informando, “Tudo certo, o celular vai ficar”.
Interessado em descobrir o motivo técnico que ocasionara tal fato, Jesualdo perguntou qual o defeito constatado, recebendo a seca resposta: “é problema com a placa de dados, quando tivermos notícias lhe ligaremos”. Imediatamente, olhando para o lado disse: “o próximo!”.
Jesualdo, insistiu: “um momento, minha jovem, quanto tempo terei que esperar por tal ligação?”. Esta, já sem olhar para seus olhos, falou que, no mínimo, trinta dias.
Sem alterar a voz, o cliente disse: “Senhorita, sabe quem sou eu, sabe com quem está falando?” Ela, como que imaginando tratar-se de uma autoridade, olhou-o novamente e ouviu-o dizer; “Eu sou um prostituto. Um garoto de programa… vendo o corpo.”
Esse celular é meu escritório, continuou Jesualdo; através dele marco meus compromissos; você está querendo me tirar do mercado? Imagine, um mês sem atender os meus clientes. Com essa idade, quase sessentão, jamais retomaria o ritmo de trabalho e recuperaria a minha praça!
Você tem alguma coisa contra coroas que vendem o corpo? Como pode, simplesmente, me mandar embora, me dando um prazo mínimo de trinta dias de espera, para ter novamente algo que é meu e que se encontra em garantia? Só saio daqui, falando. Pode ser por intermédio de qualquer equipamento, mas com um celular para comunicar”
A bela atendente, como que assustada, retirou-se do ambiente por uns instantes e, ao retornar, o fez acompanhada pelo proprietário, velho conhecido de Jesualdo, Advogado como ele, que após abraçá-lo, perguntou se o mesmo estava louco, pois tinha deixado sua funcionária atônita e encabulada.
De maneira alguma, ela foi sempre respeitada e bem tratada, desmiolado seria se a tivesse agredido verbalmente, respondeu Jesualdo.
Ao sair da loja, com um outro celular, já habilitado, que ficou sob sua responsabilidade por quase sessenta dias, tempo que durou a permanência do equipamento na concessionária, trazia mais uma certeza: Tratar bem ao próximo é dever de todos, até porque, sem exceção, as pessoas anseiam por atenção ao buscarem informações sobre algo ou alguém.
Não se sabe, até hoje, se a jovem bela e loira, que manteve tal contato com o Jesualdo, acreditou realmente que ele fosse um garoto de programa. E se, acreditando, teria telefonado para o “coroa enxuto”, marcando um encontro para testar seus serviços e habilidades. Mas, que a história funcionou, funcionou!
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras
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