O GATO –
Ultimamente, tenho lido e ouvido na mídia local o mutirão feito pela Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte (COSERN ) para descobrir e punir o desvio de energia (o conhecido e tão famoso gato), considerado um crime pelas nossas leis, sujeito a sanções penais.
O assunto me despertou a atenção para uma passagem que aconteceu comigo no inicio dos anos de 1970.
Possuía uma pequena casa em um conjunto residencial no bairro de Neópolis, zona Sul da cidade; expus para aluguel sem a necessária e indispensável intermediação imobiliária; conduta normal na época.
Pouco tempo de anunciada, o aluguel foi concretizado.
A princípio tudo às mil maravilhas: boa conservação do imóvel, pagamento rigorosamente em dia, tudo como reza na cartilha do bom inquilino.
Passados os dois primeiros anos, houve necessidade de recuperar o imóvel, quando foi solicitado ao inquilino. Com o prazo previsto de trinta dias, a chave foi entregue.
De retorno à residência, foi feita a vistoria de praxe, quando foram encontrados vários desmandos no seu interior: ausência das tampas dos sanitários, bocais e lâmpadas retiradas, fios arrancados, paredes danificadas, etc, etc.
Um tanto surpreendido e decepcionado, mesmo assim, toquei o barco para frente. Deixa para lá!
Poucos dias depois, quando menos esperava, recebi uma notificação da COSERN para comparecer ao seu escritório.
Lá chegando, fui informado que a residência de minha propriedade tinha um “gato”.
— Um gato? Não sabia que a minha inquilina criava gato! Nunca me falou nada!
— Não, senhor! Havia, sim, um desvio de energia, conhecido como gato.
— Quer dizer que a minha inquilina desviava (diminuía ) a energia para pagar menos?
— Sim, senhor!
— E, agora, o senhor vai ter que pagar a multa calculada pelo tempo da existência do gato.
— Quem? Eu?
— Sim. A residência está em seu nome e o senhor é o responsável direto e de direito. Não tem choro, nem vela! A energia vai ser cortada e a Companhia ficará aguardando o pagamento para fazer a sua religação.
Assustado e p. da vida, tive que pagar o valor cobrado, que não foi pouco.
O pior é que, por mais que procurasse encontrar a maldosa inquilina gateira não consegui. Fiquei mesmo no vermelho.
Hoje não posso ouvir a palavra “gato”, que me dá um arrepio danado, sabendo que “paguei o pato” por um gato que nunca foi meu.
O gato era manso, não miava, mas me custou muito caro, uma nota preta que fez gemer e gritar o bolso.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, berilodecastro@hotmail.com.br
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