Essa fábula é muito antiga, do tempo em que os bichos falavam. É escarrada e esculpida a realidade em que vivemos.
O Gato era famoso entre os animais pela sua agilidade, e um certo dia, estando à beira de um rio para beber água, lá foi encontrá-lo a Onça, um dos animais mais perigosos e traiçoeiros da floresta.
– Bom dia, mestre Gato; como vai você?
– Vou bem, obrigado, comadre Onça; e você?
– Não ando bem. Ando muito triste ultimamente.
– Triste por que, comadre? Será que eu posso ajudá-la?
– Mestre Gato, você é o único bicho que pode me ajudar. Sinto-me assim, porque ouço sempre falar da sua habilidade para saltar, e eu não sou capaz de fazer o mesmo. Você pode me ensinar a saltar igual a você?
– Mostrando-se gentil, o Gato respondeu:
Ora, comadre, é só esse o seu problema? Não se aborreça! Vou lhe ensinar, sim. Podemos começar agora mesmo!
– Claro que sim, disse a onça muito satisfeita.
Começou então a mais estranha aula desse mundo: O Gato exibia todos os tipos de saltos que podia executar, e a Onça procurava imitá-lo da melhor maneira possível. Saltavam de um lado para outro, subiam nas árvores e de lá pulavam para o chão, davam saltos de altura, de extensão, e o Gato mostrava que era de fato um mestre. Depois de algum tempo, a Onça já estava saltando quase tão bem quanto o professor.
O Gato, solícito, ensinou à Onça todos os seus saltos, e ela aprendeu logo, passando a fazê-los com perfeição.
Mas o plano da Onça era outro. Queria devorar o Gato.
Depois dos saltos que aprendeu com o Gato, a Onça ficou faminta e resolveu atacá-lo. Preparou-se para saltar em cima dele e devorá-lo, mas, o Gato percebeu e foi mais ágil, pulando para trás e driblando os movimentos da Onça, que caiu dentro de uma fossa que transbordava.
Tal qual um jogador de baralho que guarda uma carta na manga da camisa, o Gato guardava consigo um salto secreto que não ensinava a nenhum outro animal, principalmente à Onça. Esse segredo era guardado a “sete chaves”.
Com o salto do Gato para trás, a Onça rolou por terra e caiu numa fossa que transbordava. Desapontada e demonstrando revolta, disse para o gato:
– Ora, Mestre Gato, este salto você não me ensinou!!!
Triunfante, o Gato respondeu:
–Não sou tão tolo assim, que, ao menos, não reservasse um salto secreto para me livrar das suas garras e de sua falsidade!
Nem tudo aquilo que o professor aprendeu na vida, ele ensina aos alunos.
E com outro salto de mestre, o Gato sumiu no mato, deixando a Onça machucada e “a ver navios”.
O instinto animal faz com que ele perceba quem lhe quer bem e quem o rejeita. Da mesma forma, o ser humano também distingue as pessoas que lhe querem bem, daquelas pessoas mesquinhas, fingidas, interesseiras, egoístas e invejosas, que não suportam o sucesso de ninguém. São verdadeiras artistas.
Por isso, a lição transmitida por essa fábula deve ser guardada a sete chaves, contra pessoas falsas e traiçoeiras.
Ficou a lição. Não se deve confiar em Onça. É imprescindível ao Gato que nunca ensine a ninguém sua jogada de mestre.
Violante Pimentel – Escritora