O HOMEM PARTIDO E IDEALIZADO NA ARENA POLÍTICA –
“A Sociedade se origina de um contrato; para melhor garantia dos direitos existentes no estado de natureza como a vida, a liberdade, a propriedade, o Estado recebe a incumbência de proteção a esses direitos fundamentais. Isso é Locke, representante do empirismo e do Iluminismo inglês e, mesmo a mais de 300 anos de seu tempo, com profunda influência no campo da filosofia política. Quando o Estado não cumpre sua função, o cidadão tem direito à resistência e à rebelião. Jonah Goldberg diz, em Suicídio do Ocidente, onde discorre sobre como os valores e virtudes que fizeram o Ocidente passaram a ser vistos como opressão, exploração e privilégios, que a seu ver os dois grandes mitos da criação do Ocidente moderno estão nos ombros de Locke e Rousseau. Enquanto Locke acreditava na soberania do indivíduo, que o direito de propriedade e os frutos do trabalho são as pedras angulares de uma ordem livre e justa, Rousseau, numa notável divergência, diz que a propriedade é o pecado original da civilização, e que a desigualdade econômica é a fonte de todos os males sociais. O secular debate entre esquerda e direita vem se mantendo ao longo da história em grande parte como uma disputa entre os pensamentos de Locke e Rousseau, “Locke acredita em igualdade perante a lei, mas tolera ou celebra a desigualdade de riqueza, mérito e virtude na sociedade civil”, eis a Direita, segundo Goldberg. “Para Rousseau as liberdades Lockianas garantidas através do contrato social são somente uma artimanha, um truque que os ricos empregam contra os pobres para consolidar seu poder”, eis a Esquerda, na citação de Michael Locke. Ao assumir o comando da Revolução Francesa, o Clube dos Jacobinos anunciou “o reinado da Virtude e da Razão”, a sociedade pacífica, justa, livre, virtuosa e próspera chegaria. A British Fabian Society, de onde deriva o esquerdismo Fabiano, propunha a “reconstrução da sociedade de acordo com os mais altos princípios morais”. O esquerdismo encontrou sua concretude na chegada ao poder dos Partidos Comunistas, e aí acontece o conflito entre as visões trágicas e progressistas da evolução humana, e o que se viu foi a agenda esquerdista com suas políticas estatistas de bem estar, relativismo moral e regulação invasiva levarem ao enfraquecimento da liberdade, da ordem e da cooperação. A filosofia coletivista apaga o ser como indivíduo responsável, substituído por “adultos infantilizados que dependem dos cuidados do governo para com eles”, então foi deslocada a concepção de que “devemos alcançar uma vida boa através de trabalho duro e responsabilidades individuais e cooperativas, para uma concepção coletivista e secular da vida, a de uma competição manipuladora pelas recompensas do Estado”, nas palavras do Dr. Lyle H. Rossiter. O respeito ao individualismo foi sempre visto pela Direita caminhando ao lado dos compromissos éticos, com a visão de que o direito e o dever de se cuidar e buscar a felicidade são as maiores prioridades de sua vida, e ao cabo, como Adam Smith observou, a busca pela felicidade de uma pessoa ética quase sempre beneficia os outros, embora voltados ao seu ganho próprio. A eterna confiança no planejamento e ordenamento da sociedade, que alimenta a esquerda, formando um Estado despoticamente regulatório, mostrou-se abusiva e absolutista, e desviou-se muitas vezes criminosamente para a opressão e mesmo o genocídio. O arbítrio, a tirania, a coação da sociedade, e seu controle pela violência, foram marcas sofridas dos regimes comunistas, expostas ao mundo após a queda dos regimes atrás da cortina de ferro na Europa. Em A Mente Esquerdista, Dr. Lyle, coloca a bipolaridade do homem refletida em sua natureza “a natureza individual do homem se expressa na disposição à autonomia e a natureza relacional na disposição à cooperação consentida”. Ainda assim, inadequadamente, “a estratégia básica da esquerda permanece; coletivar as grandes dimensões do relacionamento social e trazê-los para o controle cada vez maior do Estado”.
Geraldo Ferreira Filho – Presidente do SinmedRN