O HORIZONTE DOS NOSSOS EVENTOS – Alberto da Hora

O HORIZONTE DOS NOSSOS EVENTOS –

Para nós, curiosos e interessados nas coisas e nos fenômenos do Universo, os estudiosos, astrônomos e astrofísicos têm desvendado segredos e maravilhas do espaço cósmico capazes de nos deslumbrar e até emocionar. Isso remonta ao tempo em que Nicolau Copérnico, desafiando dogmas e seculares tradições da Igreja que defendiam a ideia da Terra como centro do Universo, desenvolveu a revolucionária e hoje ultrapassada teoria heliocêntrica [o Sol seria centro do Cosmos], confirmada quase um século depois por Galileu Galilei, o chamado pai da astronomia observacional, e desde que o físico e matemático Isaac Newton elaborou uma teoria indiscutível e fundamental: a Lei da Gravitação Universal.

Hoje, todos sabem que a nossa querida Terra faz parte da uma junção de planetas que giram em torno do Sol, integrante de um corpo celeste chamado galáxia, que é composta de bilhões de outras estrelas. Esta, nomeada Via Láctea, é apenas uma das já supostas ou identificadas centenas de milhões de galáxias agrupadas sob o nome de aglomerados. É uma projeção sem fim e sem limite visível; é uma quantidade infinita e variada de elementos que têm sua atividade e seu papel estudados e monitorados por astrônomos, astrofísicos e cientistas de todos os interesses.

O dinamismo do constante e aparente deslocamento desses numerosos e diferentes corpos celestes, entretanto, não parece ser eterno. Têm-se observado que a maioria deles converge, nos seus movimentos, para regiões do espaço dotadas uma força gravitacional tão forte, que delas nada – nem mesmo a luz – consegue escapar. São os arredores dos chamados buracos negros, uma singularidade cósmica onde ocorre um denominado horizonte de eventos, o ocaso dos elementos, o limite da sua força e das suas trajetórias, absorvidas e atraídas para um lugar de onde, pelo que se conhece, não há retorno possível.

A ocorrência desses eventos no Cosmos parece repetir o processo a que estamos submetidos nós mesmos, os seres humanos. Inseridos em um espaço de singularidades naturais e sociais não escolhidas ou desejadas, somos condenados a vagar na imensidade espacial de um planeta, por sua condição, condenado ao declínio e à extinção. Ocupados na tarefa de sobreviver, muitas vezes somos presas das decisões e vontades alheias às nossas necessidades ou anseios individuais. Como inúteis seres incapazes de governar a nossa própria história, criamos deuses para nos socorrer e cuidar das nossas impotências, e demônios para assumir nossos erros e pecados. A curta, fugaz e efêmera existência não nos dá tempo de promover a paz, porque o consumimos em fomentar a guerra. A mesma lei que invocamos em sustento dos nossos direitos não serve para promover justiça para os outros. Não nos comove a escravidão do homem, desde que ela seja útil ao nosso progresso. Um Deus de amor, paz, compaixão e misericórdia pode, sim, nos permitir sermos cruéis e injustos com o semelhante.

Os elementos do Universo físico vagam no espaço infinito em direção à sua prevista ou suposta extinção. Os bilhões [ou trilhões] de anos-luz do espaço-tempo, porém, não permitem saber quando isso ocorrerá. Ainda lhes resta um grande éon de existência e sobrevida, além dos limites do nosso conhecimento científico. Feliz, ou infelizmente, para nós, gênero tardio da Terra e do Universo, as luzes já estão se apagando. Vivemos as últimas chances de nos reabilitar da pecha infamante de arruinadores do planeta, como depositários infiéis do orbe terrestre. Não para a inviável possibilidade de evitar a extinção, nos livrarmos da aniquilação; quiçá por uma necessária remissão dos pecados cometidos por sucessivas raças e gerações humanas, em um mea culpa totalmente inútil diante do inexorável horizonte dos nossos eventos.  

 

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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