O LIVRO OU A CAPA ? –

Diz-se, frequentemente, que a voz do povo é a voz de Deus. Isto, não literalmente, claro, significa democracia, uma (quase) unanimidade, maioria ou sociedade que delimita regras de boa convivência, decreta leis disciplinadoras ou simplesmente coordena o movimento dos demais.

Tenho imenso prazer em coletar antigos adágios populares e compará-los com a ciência e a tecnologia modernas. E, pela minha experiência, não erra quem segue os ditados do povo, mas em alguns casos a máxima comum não ensina ou alerta, apenas deixa fixa a constatação de fato específico.

“É pela capa que se julga o livro”, “comer com os olhos” ou “a primeira impressão é a que fica” são alguns exemplos de um mesmo padrão. São provérbios verdadeiros, cujo uso reiterado nos condiciona a pensar com os olhos e abandonar os demais sentidos humanos na hora de tomar uma decisão, uma posição ou adotar uma linha de raciocínio.

A aparência nem sempre é um fator determinante de conteúdo, capacidade ou personalidade. A aparência nada mais é que o exterior, a casca, o verniz. Sob a máscara existem infinitas nuances que escapam ao primeiro e desatento olhar. O medo de errar na escolha, o instinto de sobrevivência e a pressa nos impedem de realizar uma análise mais acurada e, muitas vezes, por causa disso, deixamos de ler ótimos livros, comer doces deliciosos e conhecer pessoas maravilhosas.

É, valorizar o externo em demasia nos faz perder excelentes oportunidades e que, nem sempre, serão repetidas. Se fosse verdade o que afirmam esses pressupostos não haveria glória ou beleza na história do ‘Corcunda de Notre Dame’, não haveria surpresas na vida, já que a aparência seria o ponto definitivo de julgamento.

Esse planetinha engraçado, povoado por seres estranhos, pode ser um lugar maravilhoso se tivermos boa vontade e, sobretudo, mente aberta para entender que o normal não é o que nós decidimos que seria, até porque, para alguém extraordinário, nós também podemos parecer bizarros.

Ana Luíza Rabelo Spenceradvogada ([email protected])

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