O MEDO –
Otávio Pires, coronel da reserva, era conhecido pela sua valentia e agressividade.
Casado com Elza, uma das mulheres mais bonitas da cidade, e bem mais nova do que ele, tinha tanto medo de ser traído, que ameaçava qualquer homem que a olhasse com admiração. Ninguém se atrevia, sequer, a levantar os olhos para sua esposa. Na opinião de todas as pessoas, aquele que o fizesse seria um homem liquidado.
Foi no auge do ciúme do coronel, e quando mais se acentuava a fama da sua agressividade, que voltou a residir na mesma cidade, o famoso advogado Dr. Agostinho Santos, depois de morar vários anos fora. Não era coronel, nem major, nem capitão, nem tenente, mas sempre foi considerado o homem mais namorador da cidade, quando jovem.
Divorciado e sozinho, o advogado foi morar num apartamento de sua propriedade, que, por coincidência, ficava no mesmo prédio em que morava o coronel Otávio. Muito simpático e conversador, não foi preciso muito esforço para que o advogado se tornasse amigo do coronel.
A amizade foi tão espontânea e sincera, que, uma semana depois, o coronel convidou o Dr. Agostinho para almoçar com ele e sua esposa, no apartamento.
Muito simpático e gentil, Agostinho conquistou a simpatia do casal. O coronel, com grande esforço, conseguia disfarçar o seu ciúme e insegurança. Com um sorriso sem graça e uma amabilidade forçada, conseguia esconder sua austeridade marcial. Elza, usando um vestido elegante e jovial, jogava charme para cima do marido, chamando a atenção do convidado.
Minutos depois, estavam sentados à mesa redonda, em que havia três talheres. A palestra corria num clima amigável e feliz, entre petiscos saborosos e sorrisos significativos, quando o telefone tocou. Era o procurador do coronel, que precisava lhe falar com urgência, sobre transações comerciais, no escritório.
-Diabo! – exclamou o militar, irritado. Tenho de ir resolver um problema. E virando-se para o advogado, falou:
– Esteja à vontade, doutor. É questão de meia hora. Fique por aí; eu não demoro!
E para a esposa:
– Elza, se encarregue das honras da casa, que eu volto já!
Mal o coronel saiu, duas taças de vinho se chocaram no ar, por cima da mesa, festejando aquele momento. O enlevo foi tão grande, que, ao retornar, o marido encontrou a mulher e o advogado no seu gabinete, num colóquio amoroso. Apanhado em flagrante, o advogado pôs-se de pé, sentindo-se paralisado. Apoiado na porta que empurrara, o coronel o encarou, esbravejando:
– Sim, senhor advogado!!! Sim, Dr. Agostinho!!!
Pálido e trêmulo, o advogado lembrou-se da fama do coronel, e sentiu que iria morrer.
A mulher ainda teve coragem de dizer para o marido:
– Amor, não é nada disso que você está pensando!!!
Humilhado, o coronel falou novamente:
– Sim, senhor!!!
E abrandando a voz:
– Você está correndo o risco de sofrer uma congestão!!!
Violante Pimentel – Escritora