O MUDO E ALIANÇA –

Nesse pedaço de Nordeste com tantas manobras esquisitas e cheio de maracutaias na política, um causo a mais me é lembrado.

Em uma cidade do interior do Estado, época festiva de campanha eleitoral, momento do tudo ou nada para galgar uma cadeira na Câmara Municipal, tempo caracterizado pelas tentativas mais circenses na busca de votos, os candidatos se debatem, correm de um lado para o outro, na caça incessante de eleitores. Nessa caçada humana, promessas e mais promessas são feitas; algumas inusitadas.

São ofertas de tudo que não se imaginam, em troca por votos: milheiros de telhas cerâmica, telhas de brasilit, de tijolos de oito furos, pagamento de contas de luz em atraso, pagamento de taxas de água e esgoto, IPTU, dentaduras, sacos de cimento, cadeiras de rodas, vestidos de noiva, exames de sangue, RXs, internamentos em hospital na

Capital, óculos de grau e, por aí segue a infindável lista.

Diante de tudo isso, surge um pedido inusitado. Um bom eleitor, bem conhecido na cidade, o único cidadão mudo na região, prestes a se casar, fez o seguinte pedido ao candidato: uma aliança. Joia, que seria usada tão logo o vereador fosse eleito.

O candidato acatou o pedido e seguiu caminho na sua vitoriosa empreitada.

Terminado o pleito, o vereador foi eleito. Cumpriu os seus compromissos de campanha, que foram muitos, com um detalhe todo especial: esqueceu completamente do clamor do eleitor mudo (prática corriqueira no meio).

O votante, se sentindo desprezado no seu justo e sonhado pedido, foi até o vitorioso edil e pediu explicações pelo não cumprimento da entrega da sua aliança. Com a sua linguagem gesticular, lembrou a promessa, fazendo uma imagem circular com o dedo polegar e o indicador da mão esquerda, e, com o dedo indicador da mão direita, apontou e penetrou no orifício com o movimento de entra e sai: an? an? an?. O vereador no seu esquecimento soberbo, vendo aquela cena gesticulada, com certo espanto e bastante curioso, nada entendeu e se questionou: eu já prometi e já fiz doações e mais doações, as mais diferentes e inimagináveis, só não me recordo em momento algum ter prometido dar o c. caso ganhasse a eleição. Será?!

 

 

Berilo de CastroMédico e Escritor –  [email protected]

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