O MURO DA MINHA CASA –
Outro dia, encontrei novamente Jesualdo, sobre quem falei em um dos meus textos anteriores, aquele amigo de infância, que para qualquer tema discutido possui uma história a contar. Saí impressionado com a criatividade do companheiro.
Muito cedo, aprendi, que quando vemos um ser humano colossal, temos primeiro de examinar a posição do sol e observar para termos certeza de que não é a sombra de um pigmeu. Logo após o término da nossa conversa, fiquei a imaginar como uma pessoa, cuja estatura física não é das maiores, fato que nos tempos escolares lhe valeu os carinhosos apelidos de toco de amarrar jegue e tamborete de gandaia, se agigantava quando começava a falar.
Ele me contou assim: “Rostand, você não acredita… comprei uma casa de praia. Paguei barato, somente porque os últimos moradores haviam falecido em seu interior, um deles, inclusive retirou a própria vida por enforcamento, usando como ponto de amarração da corda que envolveu seu pescoço, no armador de rede existente no quarto.”
“Como somente tenho medo dos vivos, nem liguei para o acontecido. O bangalô é um pouco afastado do vilarejo, com vista paradisíaca para o Atlântico e um rio passando por trás. E fico todos os dias encostado no muro observando as belezas da região.”
“Rapidamente notei ser hábito das mulheres do arruado, caminharem bem ao lado da minha propriedade, trazendo uma trouxa de roupas na cabeça, para irem lavar as peças em poços de agua existentes, e sempre que se aproximavam repetiam a mesma conversa: aí mora um doido, essa casa é mal assombrada, qualquer dia ele morre também.”
“Naquele final de tarde, a lua já estava despontando, quando notei que as última senhoras retornavam do córrego trazendo as peças já lavadas equilibradas sobre a cabeça e tagarelando muito. Mais que depressa, peguei um largo lençol, com ele cobri o corpo. Quando escutei as vozes bem perto, subi no muro, já com os braços abertos, trazendo uma vela acesa em cada mão, gritando bem alto: – quem pode mais do que Deus!”
“Rostand”, continuou ele, “foi um corre-corre dos infernos, trouxa de roupa para todos os lados. Uma das mocinhas trazia um pote de barro cheio d’água, que quebrou ao cair. Até eu me amedrontei.”
“Rapidamente desci, apaguei as luzes do alpendre, tranquei as portas e fiquei esperando as consequências. Dez minutos depois, até o carro de polícia chegou. Bateram muito até que apareci vestindo pijamas dizendo que tinha cochilado durante a tarde. Todos, ao mesmo tempo, contavam a história certos de que almas penadas envolvidas em uma boal de fogo, haviam retornado.”
“Quando notaram que a minha integridade física estava incólume, tentaram me desencorajar em continuar ali residindo. Por muito tempo, o caminho de terra ao lado da minha casa deixou de ser usado pelas lavadeiras locais, ainda com medo da visão que tanto as amedrontou.” Concluindo, Jesualdo, um grande contador de causos, falou que nunca divulgou essa aventura.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras