O NAMORO DOS CRACHÁS –

“- Só entra com o crachá”.

Essa foi uma das máximas que me acompanhou durante a vida laboral. Era aquela coisa “chata”, porém necessária, ainda que todo o dia convivesse com as mesmas pessoas.

Quando atuava como instrutor CAIXA gostava, ao me deparar com turmas constituídas por colegas de diferentes regiões de, na abertura dos treinamentos, quebrar o protocolo de entregar a cada participante o seu próprio crachá e, ao invés disso, misturar os crachás e, cada um que fosse chegando recebia qualquer crachá, independente se dele ou não. Era uma festa e, estranho. Se homem ou mulher não interessava. Cada um portava o crachá de outro – conhecido ou não.

Que confusão! E era mesmo.

Como forma de integração, cada um deveria procurar o verdadeiro dono do crachá e conversar um pouco, para conhecer aquele que seria seu companheiro durante o curso.

Pois bem, isso foi só para introduzir a crônica abaixo, quando o crachá era confeccionado a partir de uma foto (batida e revelada), que seria colada no cartão padronizado da empresa.

Vamos então acompanhar a saga do crachá que, entre tantos, buscava encontrar algum outro

para firmar um amor permanente entre eles – o namoro dos crachás!

Tudo começou quando ainda éramos um simples filme. Nem me lembro de que na escuridão da câmara quando seu clic foi registrado, meu amor começou.

 Mas, o chato era que entre nós havia uma distância de oito chapas, e naquela escuridão não podia ver o seu semblante. Eu tinha uma esperança enorme de te encontrar, quando fôssemos ser lavados e fixados para tornarmo-nos película. Pronto. Pelo menos clareou bastante e, de longe podia contemplá-la.

 Mas, ainda assim não era possível chegar perto de você. O jeito era esperar que fôssemos copiados, pois então eu veria tuas cores e, quem sabe você talvez também me visse.

Ainda não foi dessa vez. Quando fomos copiados, não colocaram a gente juntos. Mas eu sabia que estávamos no mesmo envelope. Talvez quando algum curioso fosse passar para olhar, nos colocasse frente a frente… Vamos esperar.

 Puxa! Ainda não deu certo: separaram os homens das mulheres.

 Bem, lá vem uma tesoura para me separar dos meus sósias. Agora pode ser que eles misturem e quem sabe… Pelo amor de Deus, me colaram num cartão e me puseram num plástico. E agora, como vou respirar e gritar “ei” para ela me escutar? É duro! Oba, lá está você. Coitadinha, também lhe plastificaram.

 Estou sabendo que vamos andar pendurados para que o povo acredite que nossos donos somos nós mesmos. Engraçado, né!

 Estão nos separando, parece que vamos encontrar nossos donos. Quem sabe que agora não seja a nossa vez de nos encontrar.

 Vamos lá! Tchau. Puxa vida! Estou ansioso para lhe encontrar. Já andei por todos os setores e ainda não lhe vi.”.

Até hoje guardo todos os crachás que me acompanharam. De vez em quando olho para eles e relembro esse tempo que foi ficando distante.

Você guarda também os seus?

Obs. Esse ‘Namoro dos Crachás’, encontra-se nos anais do jornal RUMO, número 11, de Fevereiro/1981, da APCEF – Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – RN.

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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