O NOSSO E O DELES –

As expressões da língua portuguesa mais invocadas em uma abertura de ano novo são, sem dúvida, “viva” e “salve”. Traduzem os desejos de perenidade de quem as pronuncia, em tom  exclamativo de felicidade. As amarguras e outros sentimentos de menor valor são esquecidos ou pelo menos arquivados. Até mesmo as pessoas que se esquivam das festividades, se recolhem em nome da paz, uma bela sensação. A fuga para o  “vou passar dormindo” nada mais significa do que o desejo de transpor as eras na placidez do sono. Em resumo, uns e outros inauguram o tempo em harmonia, interior ou exterior.

No réveillon, como é cediço aos  janeiros,  engordam os cordões da alegria, na junção das famílias, quase sempre com o registro pontual de algumas ausências impossíveis de receber contorno. Música, afagos, brindes, espocar de champanhes e de fogos, juras de fazer e outras de não repetir equívocos. As lágrimas derramam muito mais felicidades que transbordam das “janelas da alma” do que expressão de nostalgia. Quando muito uma saudade, sem muita carga de sofrimento.

Cessadas as celebrações, além das saudades pelos momentos felizes e pelos reencontros esperados ou surpreendentes, esmaece a euforia para dar lugar às reflexões que bordejam à contrição. Muitos campos podem ser percorridos e nem sempre são eles verdes e de agradável visão. Por exemplo, como terá sido a entrada de ano daquele moço que vigia carros nas cercanias do elegante restaurante que você costuma frequentar? Será que o relento da noite lhe permitiu um naco de esperança pela aquisição de um trabalho mais digno e estável? E, para ficarmos no ramo da alimentação, o que terá ocorrido ao cruzar dos ponteiros aos profissionais da cozinha, apertados pelos maîtres para não atrasar os pedidos da abastada clientela?

Se essas meditações relativamente tardinheiras tomarem espaço nas nossas mentes em momento que anteceda ao trespasse do ano nascente, talvez seja possível exercermos o atributo da solidariedade para com os que nos são desiguais econômica ou socialmente, mas irmãos em cristandade. Assim fará mais sentido o aforismo “todos precisam de todos”.

 

IVAN LIRA DE CARVALHO – Juiz Federal e Professor – ivanlira6@uol.com.br

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