Tanto de pessoas medianamente informadas como dos eruditos, dos bem lastreados nos saberes desta vida, tem-se a opinião de que o Brasil ainda não nasceu como país, como nação. Segundo o que tais pessoas defendem, falta ao Brasil um movimento revolucionário, em âmbito nacional – e com muito derramamento de sague – para se firmar, como historicamente tem acontecido com diversos povos do mundo. Pois, arrematam, “sem esse sacrifício, não há legitimidade no processo!” É até comum ouvir-se, em encontros sociais, pessoas de status diversos afirmar: o Brasil precisa de uma guerra civil pra nascer! É bem verdade que vários países de Primeiro Mundo ostentam em seus currículos episódios sangrentos, divisionistas, motivados pelas mais diferentes razões – e causadores de muitas mortes. Mas, se alcançaram seus objetivos de desenvolvimento por conta de tais matanças, é questão no mínimo discutível.
Pois também é certo que inúmeros povos vivem até hoje atolados em crises de altíssimo quilate, originando levas e levas de mortos, de emigrantes, de miseráveis de toda ordem, sem que tenham alcançado nem um tantinho que seja de desenvolvimento e de progresso social. Nessa discussão, que aparentemente não tem fim, também há os que levantam as mãos aos céus em agradecimento pelo fato do Brasil ser um país pacífico, ordeiro (há controvérsias, em razão dos altíssimos índices de violência urbana), que não apresenta em sua história nenhum registro de guerra civil, embora Balaiada, Canudos, Revolta da Armada, 18 do Forte, Coluna Prestes, Revolução de 30, etc, etc, atestem que o Brasil, em sua luta histórica para se firmar, passou por maus bocados e viu muito sangue derramado. Porém, uma revolução sangrenta, de dimensão nacional, nunca ocorreu – nem a de 64, dos militares, pode ser taxada como revolução.
Mas, em se tratando de um acontecimento de alta voltagem, de mudanças significativas na vida de um povo, uma autêntica revolução (mesmo que sem derramamento de sangue), podemos afirmar que a Operação Lava Jato tem dado conta do recado e tem preenchido os pré-requisitos necessários ao lançamento do Brasil no restrito círculo de nações “batizadas” com acontecimentos político-eleitorais de profundidade apocalíptica. Se não ostenta em si a faceta militaresca ocorrida em outras nações, com o inevitável registro de violência e mortes, catalogue-se tal fato como prova da maturidade de nossas instituições – o que, em parte, testifica a existência de, pelo menos, uma pré-nação em solo brasileiro. Que, agora, com a Lava Jato, se intensifica – preenchendo a lacuna histórica que nos faltava. Assim, a partir de agora, forçoso é reconhecer: o Brasil finalmente nasceu! Um novo Brasil! O Brasil pós Cabral!
Pois, pelas suas dimensões, repercussões, consequências, e até pela ressonância internacional, a Operação Lava Jato não pode mais ser confundida como mera operação policial nem muito menos como mero gesto de rigor profissional de membros do poder judiciário. Trata-se, na verdade, de fenômeno de causalidade transcendente às momentâneas prisões e encarceramentos de notórias figuras do noticiário político-eleitoral. Quem sabe venha até se constituir numa autêntica ruptura com o Brasil que Cabral nos legou. Com seu estilo mediavalesco, coronelesco, de perene impunidade às castas da casa grande – e de compadrio condenável entre os senhores de engenho e a Corte. Embora ainda correndo risco de ser travada, derrotada pelos “lá de cima”, a Lava Jato já cumpriu um papel de fundamental importância ao surgimento de um novo Brasil. De um civilizado Brasil. Celebremos. Sim, celebremos…
Públio José – Jornalista