O PARENTE –
Numa manhã de domingo, Severina estava preparando o almoço, quando alguém tocou a campainha da porta. Era um homem aparentando uns 30 anos, bem vestido e educado, que assim falou:
-Bom dia! O Genésio está?
A empregada respondeu:
-Não. Dr. Genésio saiu com dona Ângela e os filhos. Só volta na hora do almoço.
O homem continuou:
-Ah, meu Deus! Meu primo parece que é leso. Combinou comigo para eu vir almoçar com ele hoje e colocar os assuntos em dia, e parece que se esqueceu.
O homem segurava uma sacola na mão, onde se podia ver alguns presentes.
A empregada, que era novata na casa, perguntou:
-O senhor é primo dele?
E o estranho respondeu
-Sou primo legítimo, quase irmão. Fomos criados juntos. Meu nome é Josué.
A empregada , então, disse:
-Faz uma semana que estou trabalhando aqui. Vim do interior. Já que o senhor é primo dele, pode entrar e esperar que ele chegue.
O rapaz agradeceu o convite, entrou e colocou a sacola de presentes sobre uma cadeira. Sentou-se na sala, pegou o controle remoto e ligou a televisão, como se fosse muito íntimo da casa.
A empregada voltou para a cozinha e continuou preparando o almoço. O visitante elogiou o cheiro da comida e permaneceu, muito à vontade, assistindo televisão. Toda ancha com o elogio, Severina ofereceu ao homem um cafezinho com bolo, mas ele recusou. Perguntou se tinha cerveja, e foi o que a mulher lhe serviu.
Josué, o “primo”, perguntou à empregada:
– Genésio tem recebido carta da tia Raimunda, a mãe dele?
A mulher respondeu:
-Não sei não, senhor. Só faz uma semana que estou trabalhando aqui.
O “primo” visitante entrou no quarto do dono da casa, dizendo que iria usar o banheiro. A empregada ouviu isso com naturalidade, já que se tratava de um primo do seu patrão.
O homem saiu do quarto e disse à empregada que iria dar uma volta pelo quarteirão, para fazer hora. A espera pelo primo já estava lhe dando sono. Lá da praça, ele veria Genésio chegar em casa e voltaria para o almoço.
Genésio, Ângela e os dois filhos, finalmente, chegaram em casa. Estranharam a liberdade da empregada novata, em ligar a televisão, e em volume tão alto.
A patroa reclamou, irritada:
-Quem lhe ensinou a ligar a televisão, Severina?
A empregada respondeu:
-Quem ligou a televisão, não fui eu, não. Foi o primo de Dr. Genésio, Seu Josué, que estava aqui esperando por ele. Ele disse que Dr. Genésio convidou ele pra almoçar hoje aqui. Ele deixou até uma sacola de presentes, aí na cadeira. Esperou muito e depois disse que ia dar uma volta no quarteirão, pra passar o tempo e depois voltava pra almoçar.
Genésio mudou de cor:
-Eu não tenho nenhum primo chamado Josué, nem convidei ninguém pra almoçar aqui, Severina!
-Dr. Genésio, ele disse que era quase irmão do senhor.Trouxe até essa sacola cheia de presente, que está aí na cadeira, pro senhor, Dona Ângela e os meninos. Ele chegou antes das 10 horas. Ligou a televisão, pediu cerveja e depois usou seu banheiro. Parece que estava desarranjado. Depois, disse que já estava cansado de esperar e por isso ia dar uma volta pra passar o tempo. Depois, voltava para o almoço.
Genésio, Ângela e os dois filhos de 8 e 10 anos pegaram a sacola e abriram todos os “presentes”. O que parecia uma caixa de sapato, continha um vidro vazio. Os outros eram somente papel picado.
Ao avisar à empregada que estava indo ao banheiro, o golpista furtou de dentro do guarda-roupa do casal, todas as joias da casa, e todo o dinheiro que ali estava guardado.
Genésio e a esposa registraram um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Polícia, mas não deu em nada.
Violante Pimentel – Escritora