O PESCOÇO –

Olho-me atentamente no espelho e percebo algo indiscutível: meu pescoço envelheceu. Meu pescoço!

Não que o restante do corpo não tenha marcas do tempo. Longe disso! Os fios brancos chegaram e, depois de muito refletir, disfarcei com algumas mechas cor de mel, apesar de ninguém aqui em casa entender que são cor de mel as minhas mechas. Eles acham que não existem tons diversos de louro e castanho e eu desisti de ensinar a diferença.

Também não falo pelas rugas que circundam meus olhos. Uma amiga disse-me:

-Pare de rir! Está cheia de pés de galinha!

Eu respondi rindo:

– Se eu parar de rir, qual será a graça da vida?

Ela silenciou…

Tampouco falo das dores na lombar, na cervical, nos joelhos. Nada impede minhas idas à academia, fazendo meu spinning, pilates, yoga e musculação. Nem minhas caminhadas a pé para comprar pão, remédios, objetos de decoração.

O que me incomodou mesmo foi o pescoço. As ruguinhas que apareceram nele não parecem refletir minha idade de espírito. Não me vejo com rugas no pescoço, gente do céu.

Refleti sobre sua existência e meu incômodo e depois de dias ruminando sobre isto soltei a minha preocupação para mamãe.

– Mãe, meu pescoço enrugou.

Ela me respondeu prontamente:

– O de Helô Pinheiro também! E ela é a eterna Garota de Ipanema. Sabe o que ela fez? Usa lencinhos no pescoço. Se te incomoda, faça o mesmo.

Simples e prática, só pude rir de como meu problema é pequeno e a solução é simples.

Tão simples que me surpreendeu como eu não tinha pensado nisso antes!

Se até a Garota de Ipanema escondeu seu pescoço, quem sou eu para não fazer o mesmo quando a situação apertar? E, cá para nós, melhor ela ter me indicado o uso de um lenço que uma burca… #prontofalei

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

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