O POTENGI E SUAS MARGENS –
Encantado por grandes águas, principalmente as correntes, levo o Potengi aonde vou. Vendo outros rios do mundo, faço comparações. O “rio dos camarões” leva vantagem em beleza e sedução para os mais famosos. As suas margens perdem feio na preservação da natureza, no aproveitamento de sua riqueza. Povos de elevada cultura têm zelo, quase religioso, pelo aproveitamento máximo do que os seus rios oferecem.
Impressiona o Neva espelhando n’água as belíssimas construções antigas de São Petersburgo, inclusive o museu Hermitage. O Sena, margeado por fascinantes monumentos, agora despoluído, aproveitado por pescadores, tal qual o Reno. O Tâmisa, identificando e revalorizando Londres.
Até em publicações oficiais, foi registrado que Natal está à margem direita do Potengi. Talvez, porque a cidade tem cuidado um pouco mais desse espaço. Lá estão a Base Naval, o histórico Rifoles, o cais da Tavares de Lira, os centros esportivos náuticos, o porto, o Iate Clube, o 3º Distrito Naval, as instalações do Exército nacional.
Já na margem esquerda, praticamente, nada se fez. É desassistida como acontece em toda a Zona Norte. Ela é sujeita a constante favelização.
É necessário e urgente que o cidadão natalense ponha o nosso rio no coração, entenda que, como um ser vivo, ele deve ser cuidado. O rio une a cidade, não a divide, e quer oferecer aos habitantes a melhoria da autoestima, o prazer da contemplação, além de emprego e renda.
As intervenções deverão ser feitas respeitando a ecologia. Infelizmente, por falta de conscientização ambiental, são jogados no curso d’água todos os dejetos domésticos, industriais e comerciais ao longo dos seus 176 quilômetros, de Cerro-Corá ao Oceano. O escritor João Batista Pinto anotou: “O Potengi é triste, se alonga como se recebesse lágrimas de todos os poetas”.
O Atlântico é excelente parceiro do rio; todos os dias, dando-lhe a coloração verde, renova as suas águas, possibilitando a recuperação estuarina. Mas não consegue deter o mal comportamento humano.
A margem esquerda merece ter presença humana como marina, escola de Sustentabilidade, de Navegação e Pesca, hotéis, edifícios residenciais. Esse destino é merecido e trará utilidade e prazer à comunidade ribeirinha.
A história registra que o Potengi era um dos mais piscosos do Brasil, povoado por peixes, camarões, ostras, frutos do rio e mar. Na primeira metade do século passado, havia ainda guarás e outras aves aquáticas. Mestre Cascudo testemunhou e descreveu o voo dos pássaros vermelhos sobre as verdes águas.
Será mera utopia imaginar que idealistas de uma ONG tomarão a tarefa-missão de, à semelhança dos que cuidam das tartarugas, repovoar o Potengi com ave-fauna, notadamente com guarás e gaivotas? Há que mobilizar a energia dos homens de boa vontade.
A cidade (e a vida) pede e agradece.
Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN