O POVO HEBREU – Tomislav R. Femenick

O POVO HEBREU –

Após a publicação do meu artigo sobre a autodeterminação do ser humano estabelecida pela religião hebraica, recebi várias mensagens pedindo alguns esclarecimentos sobre esse povo, umas mencionando hebreus, outras fazendo alusões a judeus ou israelitas. Vamos tentar, começando pela diferença entre os três nomes.

A história do povo hebreu é imbricada com a sua religiosidade e, mais especificamente, com a sua crença monoteísta e a não-aceitação de outros deuses. Assim a história e a religião hebraicas se mesclam constantemente, formando um conjunto que se for separado perde a compreensão, o sentido. Embora atualmente as palavras “hebreu”, “judeu” e “israelita” sejam entendidas como sinônimos, histórica e etimologicamente elas têm significados diferentes. Há duas explicações para o significado da palavra “hebreu”. Uma, tomando por base além da Bíblia textos egípcios e acádios, diz que o termo significa emigrante e que seria aplicado a vários grupos e não apenas àquele que é conhecido na história por essa denominação; outra diz que esta é uma palavra específica para os filhos de Abraão, aplicada às tribos que aceitavam Javé como único Deus. A palavra “israelita” identifica um grupo específico de hebreus, os descendentes de Jacó, filho de Abraão, que teve seu nome alterado para Israel, ou seja, “o que luta com Deus”. Por sua vez “judeu” refere-se a um grupo específico de israelitas, aos descendentes Judá (Iehudá), um dos doze filhos de Israel, cuja descendência formou a tribo que deu origem ao reino de Judá.

Além da sua crença monoteísta, isto é, acreditarem em Javé como o Deus verdadeiro e único, onipotente e onisciente, que criou o mundo e os homens, os hebreus têm por certo que são “o povo escolhido de Deus”.

Os hebreus compreendiam um grupo de clãs e tribos semíticas seminômades, que seriam aparentados com os arameus, cuja origem é motivo de controvérsia. Para uns, a maioria, indubitavelmente trata-se de pessoas que emigraram, durante o século XIV a.C., da Mesopotâmia para Canaã, parte da qual hoje é conhecida como Palestina. Para outros, eles são oriundos das estepes e dos desertos meridional e oriental, da península do Sinai.

A organização política desse povo teve início com Abraão, o patriarca bíblico, que é considerado o pai de todos os hebreus. Abraão nasceu na cidade de Ur e teria vivido em alguma época entre os séculos XX e XV a.C. Segundo a Torá, Deus determinou a Abraão “vai embora da tua terra, do teu torrão natal, e da casa do teu pai, para a terra que Eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação”. Chegando em Canaã, Deus apareceu novamente e lhe disse: “Eu darei esta terra a teus descendentes”. Em um período de escassez de alimentos na terra prometida aos seus descendentes, Abraão emigrou para o Egito, onde “adquiriu rebanho, gado, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos”.

Sara, a esposa de Abraão, que até então era estéril, ofereceu Agar, uma sua escrava egípcia, para que dela Abraão tivesse um filho, assim sendo gerado Ismael, o primogênito. Entretanto foi com Isaac (seu filho com Sara, após esta se transformar fértil), e Jacó (filho de Isaac e seu neto), que Abraão formou a linha patriarcal do povo judeu. Jacó recebeu de Javé (Deus) um novo nome, Israel. Ele teve 12 filhos e cada um deles deu origem a uma das 12 tribos do povo judeu, os chamados “filhos de Israel”.

O cenário da afirmação hebraica foi a Palestina, região situada na costa oriental do mar Mediterrâneo, a sudoeste da Ásia que, no decorrer da história, passou por grandes modificações políticas e mesmo físicas. Nos séculos XIV e XIII a.C. a região foi invadida pelos hebreus e filisteus, que encontraram uma região já habitada primordialmente pelos cananeus. Em 1125 a.C. algumas tribos hebreias se uniram e derrotaram os cananeus, os quais tinham “uma cultura material superior” à dos seus conquistadores, mas que, paulatinamente, foram sendo assimilados pelos hebreus. Posteriormente as 12 tribos hebraicas, sob o comando de Saul, iniciaram a luta contra os filisteus, fato que uniu os herdeiros de Abraão e deu lugar à estruturação política dos hebreus. O reino teve como capital a cidade de Jerusalém, e como rei o próprio Saul.

Tribuna do Norte. Natal, 08 ago. 2019

 

 

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia com extensão em sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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