O QUE FAZER EM VIAGEM SE A MALA EXTRAVIOU? –
Uma das mazelas da moderna civilização, o mistério do sumiço de malas no Aeroporto. Esses úteis apetrechos providos de alças percorrem um caminho no desembarque praticamente visível a todos, no entanto, vez por outra uma desaparece, ou seja, escafedem-se com ela! Nos compartimentos de despacho ou aduana estão lá funcionários fichados, conhecidos, as malas sob sua guante incumbência, mas inabitualmente some como num passe de mágica. O que fazer além de suportar o constrangimento?
Como fez reparar em crônica a escritora Ana Miranda, “Vivemos hoje de fazer as malas”. Ela acrescenta de seu ofício: “os escritores hoje são quase caixeiros-viajantes. Nômades. Ambulantes. Mascates de literatura”. Em que pese agora mais esta novidade, as companhias passaram a cobrar pela bagagem. O certo é se habilitar a fazer as malas direitinho como se dá nó em gravata. Melhor é prevenir e ser rigoroso nessa função de viajar. É levar a mala bem composta, conduzir junto a franqueza, a sinceridade e a alma leve! Não é bom alvitre considerar que a sua vida está na mala; mais acertado é sair da mala e passar a incorporar os novos cenários, as novas paisagens, e as fortuitas paragens da vida. São transitórias, mas devem ser intensamente vividas.
Certa vez ao chegar ao hotel, em destino noutra cidade, certifiquei-me que a mala não viera junto. O que fazer? Não se deve estragar o dever a cumprir, ou a programação particular. O jeito é ao menos, nessa oportunidade, ter a disposição de contemplar o enfado pelo lado conveniente. Deve haver uma solução favorável a vista.
Mesmo que camisetas, bermudas, calças, barbeadores, pastas de dente estejam mais caros, caminhe um pouco mais em busca de promoções, marcas locais. Compre somente o indispensável. E o mais importante. Cuide de levar as coisas imateriais, os bons sentimentos, a graça, o humor. Não deixe suscitar sentimentos que abalem o espírito, a curiosidade, a emoção franca para novas amizades. Isso mesmo. Nada de abatimentos transitórios que o atormente o estado de ânimo. O que importa é a incorporação da alma de quem viaja, daquele que carrega mais saudades lisas do que roupas amassadas!
Luiz Serra – Professor e escritor