O QUE HÁ DE SE SABER – 

É bem sabido que num tempo de derrocadas e abismos lúgubres, em que a alma submergia e desesperançava expectativas pela claridão da vida, havia dor nas manhãs, cansaço nas tardes e desespero nas madrugadas.

Desnorteados andavam os pés, desguiados pelos tortuosos pensares. Ocultavam-se quaisquer vestígios de ombridade. Tratava-se com desdém e deszelo. Penosa alma que não morre e vaga pela vida.

De certo, se cria, tiraram-se tudo. Nada mais se tinha, nada mais se fazia sentido. Descrente dos seres viventes, desconstruía o amor, abafava e desfalecia sentimentos nobres e prazeres singelos. Nada mais se era.

Os pensamentos se assentaram, tomaram prumo. Engoliu-se seco. Desconsertou-se para ajustar as peças do ser.

Não seria justo incumbir-lhe responsabilidade de interventor de quem não haveria de resistir. Não se lhe daria tão pesado fardo. É certo que pedaços se refizeram depois de intervir.

Sobre os dias, sobre o que resta, pedaços jogados em um tabuleiro de peças ocultas e improváveis. Naipes descompletos, rasgados e roubados.

Algumas cartas estão na manga. Os Ases, encaminhar-se-ão para reinos seguros. O Rei, atormentado, tapeia-se com o seu reinado e o bobo da corte, guarda o seu coringa para a cartada final.

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

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