Em seis votações essa minoria radical do partido empurrou o líder para o limbo e impôs a desordem na estreia da legislatura.
O grupo rebelde expõe sem pudor a realidade disfuncional do partido e se alinha ao House Freedom Caucus, a sua ala mais extremista, criada em 2015 com o slogan “Washington não nos representa”. O grupo antissistema é moldado no Tea Party, que em 2010 também levou o partido a uma guerra interna e à derrota do então presidente da Câmara, John Boehner.
Seu objetivo? Angariar mais poder para mudar a forma como a Câmara opera e os projetos são encaminhados: na sua ótica a hieraquia tem que começar de baixo, fortalecendo a estrutura dos comitês legislativos.
Os dissidentes de extrema direita pregam ainda o reforço da fronteira dos EUA com o México, o corte de fundos, a eliminação de impostos federais sobre a renda e a sua substituição por tributos sobre o consumo.
Neste sentido, Kevin McCarthy é considerado por eles um representante leal ao sistema que rejeitam.Um levantamento publicado pelo jornal “The New York Times” revela, sem surpresa, a lealdade do grupo a Donald Trump. Quinze dos 20 foram apoiados pelo ex-presidente nas eleições de meio de mandato. A grande maioria reverbera a tese de que a vitória de Joe Biden, em 2020, foi roubada.
O ex-presidente, contudo, manifestou apoio a McCarthy e ao fim do caos, após ele ter sido derrotado em três rodadas de votação. Os radicais não lhe deram ouvidos e prosseguiram com o desafio, num indício de que Trump pode também estar perdendo sua área de influência.
A campanha “Never Kevin” (Nunca Kevin) começou com cinco fervorosos opositores de McCarthy, entre eles os congressistas Matt Gaetz, da Flórida, e Andy Biggs, do Arizona. Foi ampliada para 20, embora nem todos os integrantes do original Freedom Caucus sejam contrários a McCarthy.
Necessitado de votos, o líder da maioria republicana fez várias concessões aos dissidentes, certa vez qualificados pelo antecessor John Boehner como “terroristas legislativos. McCarthy cedeu, cedeu e se enfraqueceu. Não há prognóstico favorável a ele, ainda que desbloqueie o impasse.
As sucessivas e desgastantes votações em busca de um presidente da Câmara lembram um novo dia da marmota, como bem resumiu no plenário a deputada Kat Cammack, da Flórida. Sem comando, o partido que detém a maioria na Casa se arrisca à disrrupção definitiva. Sem presidente da Câmara, não há atividades legislativas. É só bagunça.
Fonte: Blog da Sandra Cohen