O RÁDIO –
O rádio de pilha ficava postado em cima da cristaleira da sala de jantar. Fazia parte da decoração do ambiente principal das refeições. Era uma peça de grande valor sentimental, estima e valia. Embelezava o ambiente e trazia nostalgia ao vazio da sala.
Era uma peça única, com detalhes singulares, diferente de todos os rádios que passaram pela casa. Havia uma beleza diferente em suas formas. O som era mais vibrante quando emitia informações importantes, e seus botões tinham um charme especial.
Ele era pouco usado. Havia de se ter cuidado no manuseio. A peça de grande valor estava exposta e sensível ao tempo, às quedas e a tropeços dos maus usos. Uma vez a cada trinta dias, às quartas-feiras, era o dia em que nos vestíamos de gala, nos sentávamos à frente dele para sintoniza-lo nas ondas das principais emissoras da época e nos deleitarmos com as programações.
Na maioria das vezes a sintonia era perfeita, em outros dias precisávamos ajustar a posição da antena do local ou o dial na rádio desejada. Eram feitos testes para que se encontrasse a frequência perfeita para as músicas soarem sem ruídos.
Nos dias de tempestades ele era guardado em local seguro, longe de trovoadas, de relâmpagos e dos respingos de água, protegido das mudanças climáticas e suas consequências. O rádio era um bem precioso e não podia ser danificado, pois com zelo ele teria uma durabilidade maior.
Reverencio aquele rádio porque fez parte das lembranças da minha adolescência.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora