O RISCO DAS CRENÇAS DISFUNCIONAIS –
Para quem está vivendo a oportunidade divina de ser pai ou mãe, é essencial assistir a palestra “Os primeiros mil dias de vida de um bebê”, que o Médico Pediatra e Neonatologista José Martins Filho, Professor Emérito de Pediatria da Unicamp, onde foi reitor entre os anos de 1994 a 1998, deu ao Café Filosófico.
Os primeiros mil dias são a soma do período da gestação com os dois primeiros anos de vida da criança.
É nesse período da existência onde há o maior estirão em crescimento, desenvolvimento mental, neurológico e imunológico do ser humano.
Tudo que acontece nesse período repercute fortemente para o resto da vida. Sobre isso, sentenciou o grande José Saramago: “O homem que sou é por causa
da criança que eu fui!”
Coisas que acontecem com a mulher no período da gestação, tais como: ansiedade, estresse, raiva e violência, aparecem no desenvolvimento da criança,
por toda uma vida. Dificuldades escolares, agressividade, déficit de atenção são marcas comuns nesses casos.
Ainda segundo o Dr. José Martins, os conhecimentos da medicina nessa área, deram saltos gigantes! Com 18 dias de gestação os neurônios do bebê já começam a se desenvolver. Na trigésima semana, ainda na vida intrauterina, o cérebro já está funcionando com perfeição.
Pesquisas recentes mostram que, aproximadamente, 65% da energia que as crianças recebem nesse período dos primeiros mil dias, são usados para desenvolver o cérebro. Ou seja, apenas 35% fica disponível para o resto do organismo.
Nessa época da vida, mais do que em qualquer outra, cada neurônio faz sinapses com outros cem mil neurônios. Uma capacidade inacreditável, a desses cérebros mirins.
As crianças já nascem com algo em torno de cem bilhões de neurônios, que vão se perdendo ao longo do tempo, com o passar da idade. A imensa quantidade
dessas células que não são estimuladas, vão morrendo com o tempo. Isso se chama plasticidade cerebral. Os adultos morrem, em geral, com uns 20% dos neurônios que nascem. É assustador!
Daí a necessidade de estimular esses bebês, da forma mais afetuosa e abrangente possível, nesses primeiros mil dias. Afinal, a poda de neurônios só ocorre naqueles que não estão sendo usados.
Esses estímulos devem ser feitos com constância, mas também, com muita qualidade. Criança é para ser tratada com cuidado, atenção e muito afeto. Só assim ela evolui da melhor forma possível.
Conversar, abraçar, beijar e dizer o quanto ama e tem orgulho dela, é para fazer a todo momento! Ler historinhas com livrinhos coloridos, escutar músicas, tocar instrumentos, caminhar em parques, ver aquários… tudo é muito valioso. Proibido é o uso das telinhas, como o celular e computadores.
Aquela máxima de deixar chorar até cansar para “aprender” sozinho foi definitivamente banida! Se o bebê não é atendido, é maltratado ou negligenciado ele tem estresse tóxico. O estresse tóxico, que libera adrenalina e cortisol, pode eliminar neurônios nessa fase de crescimento. São lesões cerebrais de dificílima reversão.
Existe o estresse positivo e eventual quando a criança precisa aprender com pequenas frustrações. Por exemplo, na hora de um banho que não quer tomar, mesmo estando muito sujo. Um outro estresse normal é o que acontece com pequenos acidentes, como, por exemplo, ferir um joelho numa pequena queda. Esses são estresses normais que devem e vão existir.
A Epigenética também vem reforçando muito a tese de que o ambiente pode influenciar na genética, ativando ou desativando genes. Portanto, temos mil lindos dias para formar um ser humano inteligente, calmo, afetivo e, sobretudo, bom.
Dos dois aos seis anos a velocidade cerebral diminui um pouco, mas ainda estamos na importante fase da formação da personalidade.
Por fim, quero crer que os pais competentes são aqueles carinhosos, amorosos, atenciosos, mas, que quando precisam, usam a inteligência emocional para colocar limites.
Nesse diapasão, tenho uma preocupação maior, que requer um cuidado enorme do que falamos para nossos filhos, na maioria das vezes, sem perceber o tamanho do problema futuro que podemos causar. Falo do risco da criação das crenças disfuncionais!
O conceito de crenças disfuncionais é bem utilizado na Terapia Cognitivo-Comportamental, uma vez que é mais comum do que pensamos. De acordo com a TCC, as crenças são entendimentos que carregamos e geralmente não somos capazes de questioná-los, pois, na maioria das vezes, o percebemos com autenticidade plena.
Nesse sentido, podemos ter várias crenças disfuncionais enraizadas na nossa vida sem que percebamos o impacto que elas têm nos nossos comportamentos e,
acima de tudo, nos nossos sintomas.
As crenças podem ser formadas ao longo da vida e são, geralmente, resultado de experiências passadas. Por vezes ficam tão arraigadas que se tornam invisíveis para nós.
Outrossim, nada pesa mais que a fala de pais e cuidadores em geral, na primeira infância. Essas vozes pesam toneladas e viram verdades absolutas nos esquemas cognitivos da criança.
Se for um pai, mãe, avô ou outro familiar que também seja o ídolo, aí o “bicho pega” de vez! Isso posto, fica evidente que cuidar daquilo que se fala é tão importante quanto dar afeto, atenção e amor.
Fabiano Pereira – Arquiteto e Urbanista