O SOM DO TEMPO –
Esperamos que 2017 seja o ano da restituição. Devolução de tudo aquilo que nos foi tirado. Recuperação das finanças do estado do Rio Grande do Norte, cujo desempenho do sistema tributário tem sido pífio e inexplicável. Devolução do direito dos aposentados do IPERN de receberem os proventos junto com os servidores ativos, porque o Executivo tomou por “empréstimo” quase novecentos milhões de reais que jamais serão devolvidos. O previdenciário neste ponto tem o seu direito assegurado pela lei (Estatuto do Idoso). Ele tem mensalmente necessidade de comprar alimentos, obrigações financeiras de subsistência, principalmente medicamentos caros e indispensáveis a vida.
O governo reembolsará os prejudicados por todos danos sofridos neste ano da provação de 2016? Quem pagará (ou deverão pagar) outros pelos erros acumulados? Equívocos como o do governo passado de construir a Arena das Dunas em vez de melhorar a saúde do povo, a sala de aula e a segurança pública, não devem mais ser repetidos.
Prover-se e abastecer-se de gordos auxílios (saúde, alimentação e moradia), todo mês, em caráter intensivo, significa uma metodologia incompatível com o atual momento de crise econômica e financeira. Nesse imblógrio, renunciar a esses e outros privilégios, fará com que o doente se restaure, se restabeleça. Funcionário fantasma sempre assustou a administração pública. Nessa Caixa de Pandora é necessário descobri-lo, caça-lo, sem a injustiça ou a execração pública da parte de qualquer agente midiático, insensato e imoderado.
Lembrei-me do poeta Orides Fontela adequando o Enclesiaste ao seu contexto filosófio: “Há um tempo para desarmar os presságios; há um tempo para desamar os frutos e há um tempo para desviver o tempo”. Com a tempestade do lava jato que tece um fio de amarguras ao político – provocando sua queda hoje na bolsa eleitoral – passou a valer quase nada o seu nome nas ruas e urnas da credibilidade. O povo já começou a desarmar presságios, desamar os frutos e a desviver o tempo. E a pedir critério, bom senso, equilíbrio no trato das estipulações dos super salários. A grave situação do erário público somente se resolverá com o sacrifício de todos e de cada um, dos diferentes segmentos do funcionalismo público. O problema é antigo e é do conhecimento público. Em alguns entes federativos, integrantes do Judiciário e do Congresso ganham auxílios nos contracheques até para combustível, educação dos filhos e por ai vai… Perderam o rumo e o prumo. Falta de controle. Não é assim, também… E eu imaginava que a dança do ventre fosse o único divisor de águas puras e impuras no serviço público.
Volto a afirmar que é imperioso na vida e na administração pública saber gerir o tempo, as suas temperaturas (tribulações) e os temperamentos de todo elenco cênico. Tanto quanto o Brasil, o Rio Grande do Norte padece de enfermidade adquirida ao longo do tempo, Leio que se pretende ir a China. Volta à baila a ZPE com todas as letras. ZPE não é mais som do tempo e sim gemido antigo. Os deveres de casa ainda precisam ser feitos, aqui e agora. Como, por exemplo, renunciar valores estratosféricos de repasses, pois o duodécimo virou vocábulo e refeição de fantasmas. Moderar é preciso.
No som dos tempos de hoje, ouço ecos do STF julgando processos sobre vaquejada e sabor de cigarro. Muito banal. Ondas sonoras do Banco do Brasil desempregando funcionários e abandonando o social, a família, apesar do lucro bilionário e exagerado dos seus balanços. Quem não escuta vibrações em alto e bom som que Michel Temer perdeu a estatura compatível com os princípios e critérios do novo tempo ao manter no início Geddel Vieira (fez mungangas para ele permanecer) no ministério e fazer voltar o senador Romero Jucá à liderança do governo? A orquestra tem que tocar afinada com a música, o estilo e o ritmo, senão, volta o refrão de golpe. Por fim, com a delação premiada, a Odebrecht transformou-se agora no morro dos ventos uivantes. É som para mais dez mil decibéis.
Valério Mesquita – Escritor – [email protected]