O SOM (DO TREM) DE MIAMI – Públio José

O SOM (DO TREM) DE MIAMI –

Estou passando um temporada em Miami e já deu pra vivenciar algumas diferenças entre as coisas do Brasil e as que ocorrem por aqui. Faço essa análise sem entrar na seara da corrupção, matéria na qual o Brasil é campeão em dimensões planetárias. Prefiro focar em questões que envolvem a infraestrutura. Item, por sinal, no qual o Brasil se iguala a nações de quinto mundo. Todos sabem – com exceção do período militar, quando se deu grande ênfase a hidrelétricas, rodovias, portos, eroportos e que tais – que o país tem sido negligente nesse assunto. Em infraestrutura, o Brasil é um país envelhecido, ultrapassado, pobre de soluções que venham dotá-lo, inclusive, de condições de competir no mercado internacional. Já é manjado mundo a fora o tal do “custo Brasil”: a soma da altíssima taxa tributária com a escandalosa ineficiência da sua infraestrutura. E, nesse contexto, o trem reina soberano.
Nos Estados Unidos o trem é um assunto tão sério que se confunde com a história da criação do país como nação. A primeira locomotiva americana correu pelos trilhos em 1827, ligando as cidades de Baltimore e Ellicott’s Mills, hoje Ellicott City, enquanto o Estado de Massachusetts foi o pioneiro em incluir a questão no planejamento estadual, criando seu Plano de Rede Ferroviária, em 1829. Já a invenção do trem é atribuida ao inglês Richard Trevithick em 1804. Interessante é que o Brasil faz parte do bloco de paises pioneiros no tema, ao implantar suas ferrovias em meados do século XIX, ainda no tempo do Império. Somente pela metade do século XX é que veio à tona a priorização da rodovia em detrimento da ferrovia, cultura estatal que vem até os dias de hoje. Atualmente, não se tem, no Brasil, nenhuma iniciativa de governos, ou da iniciativa privada, que coloque o trem em lugar de destaque.
Para se ter uma ideia para onde esse desprezo ferroviário levou o Brasil – agravado pelo fato de suas dimensões continentais – dados já de 2018 colocam o país em situação humilhante em termos internacionais. A maior malha ferroviária do mundo é a dos Estados Unidos, com quase 300 mil quilômetros de extensão, seguida da chinesa com extensão em torno de 125 mil quilômetros. O Brasil atualmente dispõe de apenas 30 mil quilômetros de trilhos, algo próximo de 10% da malha americana e cerca de 25% da chinesa. Voltemos a Miami. Perto de onde estou morando passa uma linha de trem. Em algumas ocasiões, fico parado no trânsito por conta da passagem do trem. Trânsito travado, com extensa fila de veículos à espera da passagem “do monstro de ferro”. São vagões, vagões e mais vagões. O morador local se irrita, enquanto em mim nasce um forte sentimento de inveja. Sim, uma baita de uma inveja…
Sem contar o porte imponente, mastodôntico, aquele trem espalha no ar, além do seu resfolegar, um apito forte, grave, solene que fere minha alma brasileira. Comparando com a situação do trem brasileiro, é como se do Brasil viesse um gemido, um ranger de dor, em contraste com o portento americano. E o pior é que nenhuma de nossas lideranças dão prioridade ao assunto, embora o Brasil viva agora um efervescente período eleitoral. E não falo em lideranças apenas políticas. Refiro-me também às empresariais, sindicais, de ONG’s, gente de alto coturno no comércio, na indústria, na área de serviços… Com influência, portanto, para puxar o debate sobre o tema. Pois todo país desenvolvido – e hoje até os do quinto mundo – possui uma moderna e eficaz malha ferroviária. Só o Brasil relega o trem às calendas. Talvez seja excesso de inteligência. A tal que ninguém alcança. Ah, Brasil… Piuí, piuí, piuí, piuí…
Públio José Jornalista
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